Kronos

Kronos é o obscuro poder que nascido do casamento ininterrupto de Urano e de Gaia, vai separar de um golpe Terra e Céu e lançar o membro divino na maré do mar. A castração do Céu, que não se estenderá mais sobre uma esposa da qual recusava os filhos no seio, permite a abertura do espaço e do nascimento do tempo. Depois da separação do Céu e da Terra, as forças titanescas da natureza saem da indistinção subterrânea para vir ao grande dia e engendrar novas linhagens. Assim é que Kronos, o deus que emascula o mundo, rompendo para sempre a unidade inicial da origem, que inicia o ciclo de engendramentos e de idades: talvez seja a razão da confusão ulterior de Kronos e de Chronos.

Este filho de Urano encarna ainda os poderes obscuros da Morte e da Noite que serão rechaçados por Zeus, pai das novas divindades da Vida e da Luz; ele será por sua vez rechaçado com os Titãs ao fundo do Tártaro como Urano tinha rechaçado sua descendência no mais profundo de Gaia. O ciclo de nascimentos se fecha. Doravante a esfera dos tempos obscuros, assombrada pelos poderes da terra e do sangue, deve se submeter ao mundo olímpico onde reinam as divindades do céu. Mas o Olimpo dos deuses luminosos não esqueceu a antiga idade das divindades ctonianas. O mito da idade de ouro é o único testemunho, depois do abalo do céu e da terra, dos primeiros ciclos do mundo de Kronos a Zeus. Hesíodo e Platão propõem duas versões notáveis que, apesar de suas divergências, chegam a uma periodicidade análoga do tempo e dos ciclos das almas.