gr. λόγος, lógos = discurso, relato, razão, definição, faculdade racional, proporção, verbo, palavra. Latim: ratio. Razão, faculdade intelectual do homem, considerada como seu caráter específico; e todas as formas de sua atividade. O primeiro sentido de lógos (do verbo légein, falar) é fala, linguagem. Ora, a linguagem é a expressão do pensamento. O gr. rhema é também palavra, expressão vocal.

Gobry

lógos (ho) / logos: razão. Latim: ratio.

Razão, faculdade intelectual do homem, considerada como seu caráter específico; e todas as formas de sua atividade.

O primeiro sentido de lógos (do verbo légein / legein, falar) é fala, linguagem. Ora, a linguagem é a expressão do pensamento. O capítulo IV do tratado aristotélico Da interpretação trata do discurso: lógos. De fato, a palavra logos tem um sentido muito matizado, que pode ser dividido em três:

faculdade mental superior, sinônimo de inteligência conceituai e raciocinante; v. noûs / nous;

— raciocínio;

— conceito.

Faculdade. Esse sentido é empregado desde a origem. Pitágoras divide a alma humana em duas partes: uma dotada de razão e outra desprovida de razão. A primeira é incorruptível (Aécio, IV, IV, 1;V, 10; VI, 1). A mesma distinção está em Aristóteles (Et. Mc, VI, I, 5), segundo o qual é o lógos que conhece o universal (kathólou), objeto da ciência (Fís., I, 5). Platão divide a alma em três partes, ou seja, em três faculdades maiores: razão (lógos), coração, sensibilidade (Rep., IV, 439a-441c). Há também uma alusão em Timeu (89d-e), onde se afirma que o lógos é a melhor parte e deve dirigir as outras; é essa parte que sobreviverá após a morte (Fedão, 66e).

Em Heráclito, o lógos é essencialmente a razão universal, espécie de alma do mundo; há um Lógos que governa o universo (fr. 72), eterno e incompreensível (fr. 1): a sabedoria consiste em conformar-se a ele (fr. 50), graças à razão que temos (fr. 115), e que temos em comum (fr. 2). A doutrina dos estoicos é a mesma, embora mais elaborada; a Natureza universal é Razão, ou melhor, a razão é o princípio imanente e diretor da Natureza (D.L.,VIII, 88; Cícero, De nat. deor., II, 5; Marco Aurélio,VI, 5); e a filosofia consiste em manter a razão reta em harmonia com a Razão universal (Epicteto, Leituras, IV, VIII, 12). Plotino também gosta de citar uma Razão universal (Lógos toû pántos) (II, III, 13; 111,111, 1).

Raciocínio. Melisso chama de maior o argumento (lógos) que lhe pareça convincente (Simplício, De caelo, 558). Platão aduz um argumento (lógos) a favor da vida eterna (Fedão, 63a), Aristóteles, a favor da existência do lugar (Fís., IV, 1), sobre os contrários (Fís., I, 3), ou também sobre a natureza do movimento (De an., I, 3) etc.

Conceito, noção. Sentido frequente em Aristóteles. Ele formula a noção de alma (De an., III, 3), do agir e do sofrer (Fís., III, 3), da substância (Met., A, 3), da natureza das diferenças (Mel., H, 2), e define aquilo que é uma falsa noção (pseudès lógos) (Met., A, 29). Esse sentido torna-se múltiplo nos Tópicos. As vezes em Plotino: Há no Espírito “um lógos do olho e um lógos da mão” (V, IX, 7).

Derivados:

logikós, que pertence à razão, lógico. As obras de lógica de Aristóteles não levam esse título, que aparece mais tarde nesse sentido preciso, provavelmente com os estoicos. No neutro, tò logikón: a alma racional (Aécio, sobre Pitágoras: IV,V, 10).

logismós: raciocínio.

logistikón: referente ao grau inferior da razão (em Aristóteles), v. areté. (Gobry)

Heidegger

Λóγος (logos): “speaking,” not in the sense of uttering a sound but speaking about something in a way that exhibits the about-which of speaking by showing that which is spoken about. The genuine function of the λóγος is the ἀποφαίνεσθαι (apophainesthai), the “bringing of a matter to sight.” Every speaking is, above all for the Greeks, a speaking to someone or with others, with oneself or to oneself. Speaking is in concrete being-there, where one does not exist alone, speaking with others about something. Speaking with others about something is, in each case, a speaking out of oneself. In speaking about something with others, I express myself (spreche ich mich aus), whether explicitly or not.

What is this λóγος? It is the fundamental determination of the being of the human being as such. The human being is seen by the Greeks as ζῷον λóγον ἔχον (zoon logon echon), not only philosophically but in concrete living: “a living thing that (as living) has language.” This definition should not be thought in biological, psychological, social-scientific, or any such terms. This determination lies before such distinctions. Ζωή is a concept of being; “life” refers to a mode of being, indeed a mode of being-in-a-world. A living thing is not simply at hand (vorhanden), but is in a world in that it has its world. An animal is not simply moving down the road, pushed along by some mechanism. It is in the world in the sense of having it. The being-in-the-world of the human being is determined in its ground through speaking. The fundamental mode of being in which the human being is in its world is in speaking with it, about it, of it. Thus is the human being determined precisely through the λóγος, and in this way you can see where, if definition is a λóγος, the matter of definition has its ground insofar as λóγος is the basic determination of the being of the human being. The λóγος as ὁρισμóς (horismos) addresses beings in their οὐσία (ousia), in their being-there. Therefore, we must gain an understanding of οὐσία. (HEIDEGGER, GA18:17-18)

Brisson e Pradeau

Le terme de lógos a des significations multiples en grec et, particulièrement, chez Plotin ; outre les sens de parole, discours, définition, faculté de raisonnement (autant de sens qui ne s’appliquent qu’à l’homme), les stoïciens avaient dégagé en chaque réalité une certaine cohésion rationnelle qui en maintient la structure : tel est le cas d’une semence qui préside à la croissance d’une plante. Ce lógos ou contenu objectivement rationnel « vient des dieux » selon la doctrine plotinienne de la procession ; les « dieux » sont les réalités parfaites non sensibles, les Formes intelligibles qui existent de toute éternité dans la pensée pure de l’Intellect. Dès lors la « communauté (koinōnía) qui explique la beauté des corps est proprement la participation (voir, supra, note 8, p. 82). Plotin reviendra souvent sur la question des « raisons », ces contenus rationnels intermédiaires entre les Formes du monde intelligible et les corps vivants organisés « selon ces raisons » (être en bonne santé, par exemple, c’est être conforme au lógos de notre corps) : voir les traités 27, 28 et 29 (IV, 3, 4 et 5), Difficultés relatives à l’âme et les traités 47 et 48 (III, 2 et 3), Sur la providence, ainsi que l’étude de L. Brisson, « Logos et logoi chez Plotin ».


Le terme de « raison » (lógos) est employé ici en son sens technique (voir l’étude plusieurs fois citée de L. Brisson), comme le confirme la suite de l’argument. La « raison » désigne une forme intelligible pensée par l’âme qui, grâce à cette raison, peut constituer ou ordonner le sensible.

Schäfer

Logos (plural: logoi) deriva do verbo legein, que em Homero significa “colher, recolher, juntar”, depois também “contar, enumerar”, bem como “narrar, falar”. Portanto, no período clássico a extensão semântica de logos vai de “discurso, discussão” até “fundamento, razão”, passando por “cálculo, prestação de contas”. Logos também é usado como expressão da proporção matemática (ana logon). Em Platão logos aparece na amplitude total do conceito. Mas exporemos a seguir apenas o significado lógico ou gramatical de logos (para analogia, cf. analogia).

I. Definição de logos: embora Platão não tenha conceito próprio algum para “linguagem”, logos significa a manifestação linguística do homem, à qual corresponde um processo do pensamento que é passível de verdade, isto é, produz uma referência verdadeira ou falsa à realidade. A definição do logos é estreitamente ligada ao pensamento: “Pensamento (dianoi) e discurso (logos) são a mesma coisa, salvo que é ao diálogo interior e silencioso da alma consigo mesma (ho men entos tês psychês pros hautên diálogos aneu phônês gignomenos) que chamamos ‘pensamento’. … A corrente que emana da alma e sai pelos lábios em emissão vocal é chamada discurso (/ogos)” (Sof. 263e; cf. Teet. 189e s. e 206c-d). As propriedades do logos são que ele possui um objeto de referência e ocorre como afirmação (phasis) e negação (apophasis) (Sof. 262e). Sem dúvida, nessa definição logos é reduzido ao pensamento expresso foneticamente. No entanto, o conceito genérico na definição de dianoia é a conversa ou o dia-logos, de modo que fala e pensamento são fenômenos complementares, a saber, fala exterior e interior. A dia-noia, isto é, pensamento racional, discursivo, está vinculada à linguisticidade e precisamente a uma forma determinada do falar fundamentado que era praticada por Sócrates, o logon didonai. (SCHÄFER)

Peters

lógos: discurso, relato, razão, definição, faculdade racional, proporção

1. Uma das maiores dificuldades na interpretação do logos é determinar quando é que esta palavra grega comum e amorfa está a ser usada num sentido técnico e especializado. Por isso, Heráclito, no qual desempenha pela primeira vez papel de relevo, a emprega frequentemente no seu uso comum, mas também tem uma doutrina especial que se centra em volta do logos num sentido mais técnico: para ele o logos é um princípio subjacente e organizador do universo, relacionado com o significado comum de logos como proporção (frg. 1, 50), a lei da mudança tão frequentemente associada ao pensamento de Heráclito (v. g. frgs, 60, 111). E esta harmonia que é na realidade uma tensão de opostos não deve ser entendida no sentido de um retorno cíclico, mas sim como um estado estável (frgs. 10, 50). Este princípio do logos, embora seja oculto e perceptível apenas para a inteligência (frgs. 54, 114; ver noesis 1), é ainda material, como se pode ver pela identificação do logos heraclítico com o fogo cósmico (confrontar frgs. 41, 64; ver pyr), e a sua descrição do processo de pensar (Diels, frg. 22A16; ver noesis); sobre a teoria da tensão, ver tonos.

2. Platão também usou o termo logos de vários modos, incluindo a oposição entre mythos e logos (ver mythos), onde significa um relato verdadeiro e analítico. Isto é uma acepção comum, mas conduz a uma teoria epistemológica. No Fédon 76b Platão salienta como caraterística do verdadeiro conhecimento (episteme) a capacidade de fazer um relato (logos) daquilo que se sabe. No Teeteto 201c-d este aspeto do logos está incorporado na definição de episteme: opinião verdadeira (doxa) acompanhada de um relato. Sócrates discute o que significava logos neste contexto (ibid. 206c-210b), e da sua análise emerge uma descrição do logos como a afirmação de uma caraterística distintiva de uma coisa (ibid. 208c). A vitalidade deste é negada com fundamento no fato de não ter valor no caso dos seres sensíveis individuais (confrontar Aristóteles, Metafísica 1039b).

3. Mas quando esta concepção do logos sobe na escala platônica do ser tem obviamente um papel a desempenhar; na Republica 534b Platão descreve o dialético (ver dialektike) como aquele que pode fazer um relato (logos) do verdadeiro ser (ou essência, ousia) de alguma coisa, i. é, o termo do processo da divisão (diairesis) descrito no Sofista, a definição (ver horos) aristotélica por gêneros e espécies; na verdade, Aristóteles usa frequentemente logos como sinônimo de horos, horismos. Outro uso típico aristotélico é o logos como razão, racionalidade, particularmente num contexto ético, v. g., Pol. 1332a, Ethica Nichomacos V, 1134a, e frequentemente na combinação «razão certa» (orthos logos, a reta ratio estoica), Ethica Nichomacos II, 1103b; VI, 1144b. Também entende o logos como proporção matemática, ratio (Metafísica 991b), uso que remonta provavelmente aos pitagóricos, se bem que não esteja claramente expresso nos seus fragmentos (ver apeiron, peras, harmonia; para a aplicação do logos como proporção ao problema das misturas, ver holon; para a sensação e o órgão dos sentidos, aisthesis; e, em geral, meson).

4. O ponto de partida estoico sobre o logos é a doutrina heraclítica de uma fórmula de organização totalmente universal, que os estoicos consideraram divina (ver namos). O logos é a força ativa (poioun) no universo (D. L. VII, 134), criadora à maneira do esperma (SVF I, 87; D. L. VII, 135; ver logoi spermatikoi). Tal como em Heráclito é material e identificado com o fogo (ver pyr), Cícero, Acad. post. I, 11, 39; SVF II, 1027. É também idêntico à natureza (physis) e a Zeus (ver Cleantes, Hino a Zeus; SVF I, 537). Esta presença que enforma o universo desenvolve-se em várias direções: visto que é uma unidade serve de fundamento à teoria da simpatia cósmica (ver sympatheia) e da lei natural bem como ao imperativo ético «viver de acordo com a natureza» (ver nomos). A teoria linguística estoica distinguiu ainda o logos interior (= pensamento) e o logos exterior (= discurso) (SVF II, 135; Sexto Empírico, Adv. Math. VII, 275; ver onoma), distinção que nitidamente influenciou a visão do logos notoriamente difícil de Fílon.

5. Fílon conheceu a distinção entre o logos interior e o exterior, conseguiu aplicá-la à maneira ortodoxa estoica (De vita Mos. II, 137), e foi talvez esta distinção, juntamente com a tradição escrituraria judaica acerca da «Palavra de Deus», que o levou ao novo tratamento do logos. No primeiro caso o logos é a razão Divina que abarca o complexo arquetípico dos eide que servirão de modelos da criação (De opif. 5, 20). Depois, este logos que é espírito de Deus é exteriorizado na forma do kosmos noetos, o universo apreensível só para a inteligência (ibid. 7, 29). É transcendente (Leg. all. III, 175-177) e é Deus, embora não o Deus (De somn. I, 227-229), mas antes o «Filho mais velho de Deus» (Quod Deus 6, 31). Com a criação do mundo visível (kosmos aisthetos) o logos começa a desempenhar um papel imanente como a «marca» da criação (De fuga 2, 12), o «elo do universo» estoico (De plant. 2, 8-9) e heimarmene (De mut. 23, 135). Fílon difere dos estoicos ao negar que este logos imanente é Deus (De migre. Abr. 32, 179-181); para o papel providencial do logos de Fílon, ver pronoia. Fílon dá ao seu logos um papei distinto na criação: é a causa instrumental (De cher. 35, 126-127); é também uma luz arquetípica (ibid. 28, 97), reaparecendo esta última imagem em Plotino, Enéadas III, 2, 16. Mas há uma diferença entre os dois pensadores; o que em Fílon era tanto o logos como o nous é dividido em Plotino que usa o conceito de logos de um modo afim aos logoi spermatikoi estoicos; ver Enéadas III, 2, 16 onde o nous e o logos são diferenciados. (Termos Filosóficos Gregos, F. E. Peters)

These considerations oblige us to state the Logos (the Reason-Principle of the Universe) once again, and more clearly, and to justify its nature.

This Reason-Principle, then – let us dare the definition in the hope of conveying the truth – this Logos is not the Intellectual Principle unmingled, not the Absolute Divine Intellect; nor does it descend from the pure Soul alone; it is a dependent of that Soul while, in a sense, it is a radiation from both those divine Hypostases; the Intellectual Principle and the Soul – the Soul as conditioned by the Intellectual Principle engender this Logos which is a Life holding restfully a certain measure of Reason.

But this Reason-Principle which emanates from the complete unity, divine Mind, and the complete unity Life (= Soul) – is neither a uniate complete Life nor a uniate complete divine Mind, nor does it give itself whole and all-including to its subject. (By an imperfect communication) it sets up a conflict of part against part: it produces imperfect things and so engenders and maintains war and attack, and thus its unity can be that only of a sum-total not of a thing undivided. At war with itself in the parts which it now exhibits, it has the unity, or harmony, of a drama torn with struggle. The drama, of course, brings the conflicting elements to one final harmony, weaving the entire story of the clashing characters into one thing; while in the Logos the conflict of the divergent elements rises within the one element, the Reason-Principle: the comparison therefore is rather with a harmony emerging directly from the conflicting elements themselves, and the question becomes what introduces clashing elements among these Reason-Principles. Enneads: III II. 16