2. Mas a respeito da alma, por conseguinte, é preciso investigar se a alma é diferente do ser da alma. Se assim é, a alma é um composto ; e não é absurdo que ela receba formas, que experimente paixões das quais falei, caso a razão lhe permita, e em geral que ela admita hábitos e disposições boas e más. Mas se a alma é idêntica ao ser da alma, ela é uma forma; ela não admite portanto nela nenhum dos atos que é capaz de produzir em um sujeito diferente dela; ela tem um ato imanente e interior a ela; qualquer que seja, a razão no-lo descobre. Neste caso, é verdadeiro afirmar também que ela é imortal; pois um ser imortal e incorruptível não deve sofrer; dele mesmo informa os outros seres; mas não recebe nada deles, senão seres que lhe são anteriores, dos quais não é em nada separado, como por um corte, e que lhe são superiores. Que deveria temer um tal ser, posto que não admite nele nada de estrangeiro? Reservemos o temor ao ser capaz de sofrer. A confiança também não existe nele; ela é própria aos seres que podem ter a temer. Os desejos também não; há os que se satisfazem preenchendo ou esvaziando o corpo; não é a alma que sofre estes estados de plenitude e estes esvaziamentos. Como experimentará ela o desejo de misturar a outra coisa? Um essência permanece sem mistura. Porque desajará ela introduzir nela aquilo que aí não está? Ou do mesmo modo buscar não ser o que ela é. O sofrimento está também muito longe dela. Como e de que ela se afligirá? Um ser simples é suficiente para si mesmo, e permanece tal qual é em sua própria essência. Ela não tem mais também prazer, posto que o bem não se ajunta a ela e não sucede nela; pois ela é sempre aquilo que ela é. Sem sensação, nem reflexão, nem opinião nela; pois a sensação consiste em receber a forma ou as maneiras de ser de um corpo; a reflexão e a opinião revêm à sensação.
Quanto aos atos da inteligência, se os deixamos à alma, temos que examinar como existem nela; do mesmo modo o puro prazer, no caso que possa existir na alma só.