mito

(do gr. mythos, lenda). Da raiz my (mu), a mesma de “mistério” e que tinha o sentido de “silêncio”, guardar silêncio; ou seja, refere-se a algo que se nega a ser expresso em palavras, só admitindo o uso de figura, imagem, alegoria, metáfora, ou a forma imaginária de mitos, fábulas, estórias.

(do gr. mythos, fábula), narrativa dos tempos fabulosos e heroicos, objeto da mitologia. — A reflexão sobre os mitos e a mitologia empenha-se em descobrir o nascimento das religiões, pois o mito constitui uma primeira forma de explicação das coisas e do universo, uma explicação que é da ordem do sentimento, não da razão. A reflexão sobre os mitos como método de um conhecimento aprofundado do homem e das religiões foi preconizada e praticada por Schelling, J. Bachofen, E. Cassirer, K. Jaspers e P. Ricoeur. [Larousse]

Mircea Eliade

O mito narra uma história sagrada, quer dizer um acontecimento primitivo que teve lugar no começo dos tempos e cujos personagens são os deuses ou os heróis civilizadores. Daí que o mito fundamente a verdade absoluta. E daí também que, ao revelar como uma realidade acessou ao ser, o mito constitua o modelo exemplar não só dos ritos, mas também de toda atividade humana significativa: alimentação, sexualidade, trabalho, educação… Logo, em seus gestos cotidianos, o homem imitará aos deuses, repetirá suas ações. Frequentemente, pus o exemplo de uma tribo de Nova Guiné, em que um só mito serve de modelo à todas as atividades referentes à navegação, da construção de uma barco e os tabus sexuais que leva consigo até os gestos da pesca e os itinerários dos navegantes. O pescador, ao executar o gesto ritual, não implora a ajuda do deus, mas sim imita-lhe, identifica-se com o deus… Mas ainda fica por ver e, mais ainda, por entender o valor existencial do mito. O mito acalma a ansiedade, faz o homem sentir-se seguro. O polinésio que se arrisca no mar o faz sem temor algum, posto que se sente seguro, mas a condição de repetir exatamente os gestos do antepassado ou do deus. Seu êxito está incluído na ordem das coisas. Esta confiança é realmente uma das forças que permitiram sobreviver o homem. [Mircea Eliade]

Jean Chevalier

Os mitos apresentam-se como transposições dramatúrgicas desses arquétipos, esquemas e símbolos, ou como composições de conjunto, epopeias, narrativas, gêneses, cosmogonias, teogonias, gigantomaquias, que já começam a deixar entrever um processo de racionalização. Mircea Eliade vê no mito o modelo arquetípico para todas as criações, seja qual for o plano no qual elas se desenrolam: biológico, psicológico, espiritual. A função mestra do mito é a de fixar os modelos exemplares de todas as ações humanas significativas. O mito aparecerá como um teatro simbólico de lutas interiores e exteriores a que o homem se entrega no caminho de sua evolução, na conquista de sua personalidade. [DS]


Assim, as tendências reveladas pelos mitos são modelos presentes no cenário de todo espetáculo, da mesma forma que uma memória ancestral já esquecida até mesmo daqueles que nela reiteram. Toda atividade humana essencial e que responde a necessidades torna-se dessa forma temática e iterativa. O mito se apresenta como um exemplo lógico de ação, de paixão ou de espiritualidade, cujos objetivos visados permitem distinguir as três vias de realização metafísica que são a ação, o amor e o conhecimento.