pathos (Gobry)

páthos (tó): paixão. Latim: passio, affectio, perturbatio. Plural: páthe (tá) / pathe (ta).

Esse termo tem dois sentidos:

– Metafísico. É o contrário de ação ou, mais precisamente, não o sujeito que pratica a ação, mas o objeto que a recebe.

– Psicológico. É o fato de sofrer, de ser coagido e movido por uma força interior que escapa à vontade. Por isso, páthos é também sofrimento, dor, tristeza; o termo páthe / pathe (aqui fem. sing.) tem exclusivamente esse sentido.

A raiz grega path- encontra-se em latim, onde assume o mesmo significado; o infinitivo pati quer dizer sofrer, nos dois sentidos: ter sofrimento e permitir/receber. Passio (tardio) abrange, por um lado, um sentimento intenso e penoso e, por outro, um longo sofrimento físico: paixão pelo jogo, Paixão de Cristo ou dos mártires. Derivam do grego o termo moderno patético e os termos científicos patologia, patógeno, neurópata etc.; do latim,padecer, paciente, passivo, passional.

Composto: apathés / apathes, impassível, que não é capaz de sofrer.

Aristóteles opõe ação e paixão desde o tratado Das categorias. Mas ele as designa com os infinitivos substantivados: tò poiein / to poiein e tò páskhein / to paskhein, agir e sofrer (IX e X). Na Metafísica (A, 21), páthos costuma ser traduzido por afeição, ou seja, qualidade, estado que afeta uma substância.

Foram os estoicos que mais estudaram a psicologia da paixão: esta é má influência da sensibilidade sobre a razão. Crisipo a define como “movimento irracional da alma” (Arnim, Fragmenta veterum Stoicorum, III, 113); Zenão, como “um movimento irracional (álogos / alogos) e contrário à natureza” (para physin). Esse fato de ser um movimento (kínesis / kinesis) a diferencia de outros estados de alma, como a doença e o vício, que são afeições contínuas, enquanto a paixão é ocasional (Zenão, in D.L.,VII, 110; Cícero, Tusc, IV, XIII, 30).

Dois problemas apresentados pela paixão.

– Classificação. No Timeu (69d), Platão enumera incidentemente cinco paixões principais: prazer, tristeza, ousadia, medo, esperança. Em sua Retórica, Aristóteles dedica doze capítulos do livro II a esse tema: um às paixões em geral, onze às principais: cólera, brandura, amor e ódio, medo, vergonha, beneficência, piedade, indignação, inveja, emulação. Os estoicos esmeraram-se na racionalização desse exercício, em seus múltiplos tratados Das paixões, em especial de autoria de Zenão, Crisipo, Aristão, Esferos, Hecatao, Herilo. A lista clássica parece ser a de Zenão e Hecatão (DL.,VII, 110), e provavelmente de Aristão, que lhe dava o nome de tetracórdio (Clemente de Alexandria, Stromata, II, XX, 108): tristeza (lype), medo (phóbos / phobos), prazer (hedoné / hedone), desejo (epithymía / epithymia).

– Valor moral. Como o homem é definido pela razão, e como a paixão é contrária à razão, ela se mostra contranatural e, de direito, é imoral. Foram especialmente os estoicos que mais se estenderam sobre esse fato. Mas as paixões vêm do exterior, do mundo sensível, uma vez que não estão em meu poder; só se tornam condenáveis quando lhes dou meu assentimento (Epicteto, Leituras, III, XXIV, 20-24; IV, I, 82, 85 etc; Cícero, Tusc, II, XXV, 61; III, XXIX, 72; etc). (Gobry)