Pitágoras

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Pitágoras (século VI aC) (nossa página)
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I. – Vida de Pitágoras1

Nasceu em Samos, cerca de 500 a.C. Teria ido ouvir Anaximandro a Mileto e Tales teria visto nele um gênio superior ao seu. Tradições muitas vezes tardias atribuem a Pitágoras viagens ao Egito, à Babilônia ( onde teria encontrado Zoroastro), às Índias, etc. Zeller considera lendárias tais viagens, enquanto Chaignet pensa que a viagem ao Egito não poderia ser posta em dúvida. Seja como for, Pitágoras deixou Samos, desembarcou em Síbaris e partiu a pé para Crotona. Começou a pregar e atraiu a si muitos discípulos. Funda uma comunidade de homens, mulheres e crianças, na qual os bens são postos em comum, se ensina a concórdia e se exige segredo. A influência de Pitágoras na vida da cidade é considerável. Numerosas lendas envolvem a sua pessoa: seria filho de Apoio, faria milagres, recordaria as existências anteriores, goraria do dom de se deslocar instantaneamente.

Depressa atrai sobre si a ira do povo, que lhe censura o carácter aristocrático e secreto. A revolta popular estala e os Pitagóricos são massacrados.

Segundo uma tradição, Pitágoras foi queimado; segundo outra, refugiou-se no Metaponto, onde faleceu. Quando a paz voltou, foi permitido aos Pitagóricos o regresso a Crotona, mas tiveram de alterar a constituição da sua sociedade. No século IV a.C., Aristóxenes de Tarento teria conhecido os últimos representantes da escola. Pretende-se, por fim, que Filolao teria traído os segredos da seita e vendido a Dinis de Siracusa, ou a Dione, três livros contendo a doutrina esotérica, livros que Platão teria lido ou comprado, quando da sua primeira viagem à Sicília e dos quais se teria servido no Timeu.

II. – A ordem pitagórica

Em Crotona, a expressão «os Pitagóricos» não designa apenas uma escala, mas um partido, oposto ao dos ciclonianos. Daí os ódios e as querelas. O pitagorismo é, com efeito, uma sabedoria que se estende a todos os domínios, tanto do conhecimento como da religião, da estética ou da política. O recrutamento dos adeptos era feito com cuidado, segundo o aspecto, o modo de andar, os hábitos e inclinaç5es dos candidatos. A primeira iniciação durava de dois a cinco anos e compreendia várias provas (diapeira). O noviço era submetido à prova do silêncio (echemythia), limitando-se a escutar as lições do mestre, sem pedir qualquer explicação. Provém daí o nome de akousmatikoi (acusmáticos) atribuído aos principiantes. Durante esta primeira iniciação, os alunos não viam o mestre, do qual estavam separados por uma cortina. Daqui provém o nome de oi exo, os exotéricos. Em seguida, os neófitos passavam à categoria de matemáticos e, libertos do silêncio, deviam ensinar. Vinham, por último, os físicos, que estudavam os fenômenos da natureza. As mulheres são admitidas na ordem. Todos os membros devem obediência absoluta e o autos epha (foi Ele quem disse) serve de referência suprema. A seita apresenta todas as características de uma ordem monástica: passeio e oração pela manhã, jejuns frequentes, interdição de qualquer alimento animal, interdição de qualquer sacrifício religioso, por fim, proibição de comer favas, por um motivo que nunca chegou a ser verdadeiramente esclarecido. Alguns pretendem mesmo que a ordem tenha adotado uniforme, composto de uma veste de lã ou linho branco.

Terminemos, sublinhando que se levantam diversos problemas importantes, mas insolúveis. Adotaram os Pitagóricos as máximas e os usos das seitas órficas ou as seitas e mistérios órficos provieram da sociedade pitagórica? Josefo pretende que a seita judaica dos Essênios seguia um gênero de vida inspirado no pitagorismo. Creuzer pensa que não houve influência, mas apenas analogias, que se explicariam remontando às fontes persas, onde Pitagóricos e Essênios teriam igualmente bebido. (Jean Brun, “PRÉ-SOCRÁTICOS”)


  1. Fontes: JÂMBLICO (séc. IV d.C.), Sobre a Filosofia de Pitágoras; HIÉROCLES (séc. V d.C.), Comentário sobre os Versos Dourados de Pitágoras. 

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