Segundo Brisson & Pradeau, o corpo é para Plotino o resultado de uma informação parcial da matéria. É uma razão (logoi) proveniente da alma que é a causa da existência do corpo. Vide Eneada-II, 4, 5.
Em Eneada-IV, 7, 3, Plotino se opõe à definição da alma por Epicuro, “um corpo composto de finas partes”; tão finas que, repartidas no conjunto do agregado que é o resto do corpo, elas estão em simpatia com o corpo. Uma doutrina similar foi atribuída a Demócrito, de quem Epicuro seria herdeiro. Neste Tratado-2, Plotino enfrenta também a definição de alma do estoicismo, que embora materialista lhe parece ao mesmo tempo mais sutil e mais difícil de refutar.
Contestando que a alma seja um corpo, Plotino, segundo O’Meara, deixa entender que um corpo deve ser composto de um ou mais dos quatro elementos: fogo, ar, água e terra. Ou um composto destes mesmos elementos. Porém estes elementos são sem vida, e coisas compostas destes elementos dependem de algo, uma causa que os ponha juntos. Assim este algo mais é o que significa a alma. Por conseguinte a alma não pode ser corpo, seja como um elemento ou como uma combinação de elementos (Eneada-IV, 7, 2).
Ainda segundo O’Meara (1995, p. 17), os estoicos falavam de uma força corpórea, uma espécie de espírito ou sopro cósmico doador de vida, que penetra e organiza uma matéria puramente passiva, criando níveis cada vez mais complexos de realidade material culminando em racionalidade. Plotino, entretanto, assume sua própria concepção do corpo: incapaz de auto-movimento e de auto-organização; sem poder de criar funções superiores, em particular orgânicas. Estas funções devem ser produzidas por algo diferente, que portanto não pode ser um corpo.