10. Em todas estas teorias das archai é de notar que o uno permanece um fator estável; é o seu correlato que altera as nuances: o apeiron dos pitagóricos, a polarizada Díade Infinita de Platão e Xenócrates, e o plethos pluralista de Espeusipo e os pitagóricos (aoristos dyas; Metafísica 987b; ver Physica 206b; a dyas não aparece na terminologia de Phil. 24a-25b mas o que é descrito é dual na natureza). Uma opinião bastante diferente aparece no renascimento pitagórico do primeiro século em que escritores como Eudoro (in Simplício, Physica 181) e Alexandre Polyhistor (D. L. viu, 25) descrevem um pitagorismo que sustentava que a própria Díade Infinita derivava da monas.
11. As afinidades entre Pitágoras e a Academia em breve foram exploradas por ambas as partes. O próprio Aristóteles já tinha unido as duas (ver mimesis e confrontar a frequente justaposição de Espeusipo e Pitágoras na Metafísica). A derivação dos princípios transcendentes platônicos dos diálogos posteriores feitos em termos de teoria pitagórica do número é particularmente assinalada, e esta referência de um pitagórico posterior, Moderato de Gades, foi conservada por Simplício (Physica 230-231). Nela estão presentes todas as posteriores hipóstases neoplatônicas: a primeira, o Uno, para além do Ser; a segunda, o Uno que é realmente real, o inteligível, os eide; e a terceira, o Uno, que participa (methexis) do primeiro Uno e dos eide. A ênfase posta no Uno no tratado de Moderato é reveladora do seu ponto de vista pitagórico. Um relato semelhante das três hipóstases do acadêmico Albino mostra a sua orientação no sentido do Filebo e do Timeu ao descrever as três hipóstases como nous (Epit. X, 1-2). Aqui, porém, há algo de Aristóteles: o primeiro nous, além de ser o demiourgos (ibid. xn, 1) e o Pai e causa de toda a bondade e verdade, pensa-se a si próprio (ibid. X, 3). Mas foi o Uno que eventualmente triunfou sobre o nous. Numênio, pitagórico do século II, que Plotino estudou, já tinha reduzido o nous e a função demiúrgica para o segundo lugar (ver nous 18) e o seu «Primeiro Deus» é absolutamente uno e indivisível (Eusébio, Praep. Evang. XI, p. 537).
12. Este é, em essência, o Uno, a primeira hipóstase de Plotino, que está para além do Ser e completamente sem qualquer qualificação (Enéadas VI, 9, 3). A unidade não é predicado dele (VI, 9, 5); de fato, nada está nele: ele é o que é, i. é, é a sua própria atividade e essência (VI, 8, 12-13). Contudo, duas correções se seguem: não é uma unidade numérica (monas; VI, 9, 5), nem é o aristotélico pensamento do pensamento (VI, 7, 37; ver noesis 18).
13. A transcendência do Uno, afirmada com crescente ênfase na tradição filosófica posterior, leva a uma crise do conhecimento (ver agnostos). Plotino enfrenta o problema deste primeiro princípio transcendente que está para além do Ser, a apreensão e a descrição por uma aplicação da teoria da mimesis e um recurso notável à introspeção. O problema da mimesis pode ser abordado por dois lados. Um, propriamente aristotélico, é o da unidade da pessoa (ver Metafísica 1003b). Dele progride-se através de graus de unidade cada vez mais elevados até à simplicidade absoluta que é o Uno (VI, 9, 1-2). De um ponto de vista mais platônico, a intelecção é uma espécie de movimento rotativo nos céus mas perturbado em nós por causa dos movimentos contraditórios provenientes do corpo (Timeu 37a-b; Leis X, 897d; ver noesis 11). Para Plotino o Uno é o centro imóvel de todos estes movimentos e numa metáfora de bailarinos em volta de um corifeu ele explica os nossos movimentos irregulares (v. g. sensação, raciocínio discursivo) pelo nosso afastamento do regente aproximando-nos dos espetadores (VI, 9, 8; sobre o princípio da «atenção» ver noesis 21, nous 18, e as observações extraordinárias em I, 4, 10). Em ambos os casos, assim, a verdadeira unidade deve ser procurada dentro de nós próprios. O Uno é conhecido não pelo raciocínio, que é necessariamente um exercício em pluralidade, mas pela presença (parousia) em nós da unidade (VI, 9, 4). A compreensão do Uno é completada pela reflexão interior, a «fuga do só para o Só» (VI, 9, 11), que procura tornar a alma completamente simples (VI, 9, 7). No mundo inteligível, esta união mística com o Uno é uma experiência permanente, a verdadeira Afrodite celestial; aqui, no entanto, é apenas ocasional, e nós experimentamos antes a vulgar cortesã Afrodite (VI, 9, 9; sobre a própria união mística ocasional de Plotino com o Uno, ver Porfírio, Vita Plot. XXIII).
14. Tal como Plotino avança, in Enéadas VI, 9, 1-2, da unidade relativa para a unidade absoluta, do mesmo modo Proclo deriva o Uno absoluto da presença de unos que participam (methexis) da Unidade (Elem. theol. props. 1-6; para o método, cf. trias). Há, como em Aristóteles, uma causa final transcendente (prop. 8), bem como uma causa eficiente transcendente (prop. 11); estas identificam-se e são o Uno (prop. 12-13).
Para as outras hipóstases neoplatônicas, ver nous, psyche tou pantos, psyche; para o modo de progressão, proodos, trias. [Termos Filosóficos Gregos, F. E. Peters]