Unidade (Brisson)

Tratado 9 – Sobre o Bem o Uno

Através da Inteligência, a Alma tende para o Uno e ela encontra nesta tensão sua unidade. Ela o vê, dançando (koreuousa) ao redor da Inteligência (Eneada-I, 8, 2), ou em outros termos ela gira ao redor de Deus (o Uno), ela o cerca de seu amor e ela o possui tanto quanto é capaz, não totalmente por consequência. Ela não é dirigida para ele, mas ela é ao redor dele (Eneada-II, 2, 2). A Alma dá aos seres a unidade: em sua ação sobre o universo ela fornece o uno e a unidade a todos os seres. Olhando o Uno ela faz todas as coisas unas. A proporção de ser está em relação com aquela de unidade. Porque a Alma tem mais de unidade que os seres que dela derivam, ela tem mais de ser. Mas nela, à diferença do que é do Uno, a unidade é um atributo ou um acidente: no entanto se a Alma não fosse una ela não seria. Ela é una e múltipla, embora não feita de partes, pois ela tem numerosos poderes, raciocinar, desejar, perceber, e a unidade os une como por uma ligação. Ela recebe a unidade da Inteligência e a introduz nos seres (Eneada-VI, 9, 1).


Segundo Brisson & Pradeau (2002 p.126-127), há uma distinção decisiva entre o processo de unificação (o fato que uma realidade “se torna uma”) e a unidade real. Falando propriamente, segundo Plotino, só o Uno, que é designado assim por esta razão, é realmente “um”, aí onde todas as coisas devem ser vistas como pluralidades que se unificam ou que alcançaram uma unidade relativa. Assim os corpos não alcançam uma unidade senão provisória (que é aquela do composto, quer dizer da reunião de elementos diversos em uma mesma totalidade), quando a unidade da alma é temperada, por sua parte, pela multiplicidade de seus movimentos e de suas funções, e aquela do Intelecto por uma multiplicidade compreensiva (o Intelecto é um, mas ele é também todas as intelecções, todos os atos de pensamento que tomam o Uno por objeto). Deve-se conceber a unidade como um processo contínuo que comporta graus. Cada um destes graus de unidade ou de unificação corresponde a uma realidade, a um modo de existência.

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