O Empédocles que descrevo nestas páginas deve seu caráter a duas abordagens diferentes.
Procurei reencontrar as leis do pensamento, partindo dos fragmentos tal como se apresentavam nas coleções e analisando sua estrutura própria e suas relações mútuas. Numerosos e frequentemente bastante longos, eles estão ligados, mais do que em qualquer outro filósofo perdido, por um mesmo movimento. O episódio expressa as leis do dinamismo do conjunto. Nessa pesquisa, os resumos que os doxógrafos nos deixaram são de grande ajuda. Teofrasto segue mais de perto o poema do que parece à primeira vista, curioso que é pelo estilo e pela expressão que o autor deu ao pensamento. A originalidade da composição de Empédocles era tão forte que se mantinha nos resumos mais sucintos, com a poesia sobrevivendo apesar de tudo. O interesse científico do conteúdo exigia, aliás, a transmissão mais fiel possível. Muitas vezes, basta perseverar e não se deixar deter pelas incongruências aparentes, rapidamente descartadas pelos editores, para descobrir a precisão de uma decifração do universo que se conservou até eles. A coerência de todos os testemunhos, textos e análises acaba então por se revelar.
A linguagem é pessoal, difícil, iniciática. O idioma criado por Empédocles, cujos elementos são emprestados de Homero, só pode ser compreendido se se estudar a lei que os rege. Chega-se ao significado das palavras através da análise dos princípios, enquanto o pensamento é esclarecido pelo estudo filológico. Na verdade, esse duplo esforço deve guiar simultaneamente a interpretação. Ele só pode ser bem-sucedido pela comparação dos textos e pela visão do conjunto que se reflete nos detalhes. Por isso, tive que conduzir conjuntamente o comentário que se lê no volume II e a reconstituição que apresento aqui.
Assim, podemos chegar a representar o poema que Empédocles escreveu, uma ampla epopeia, erudita e visionária, narrativa e didática. O relato da gênese, que ocupava a maior parte, era como uma imensa comparação épica destinada a explicar a natureza e o devir do Ser. A técnica dos rapsodos abria o acesso à ciência e permitia sua difusão.
Convencidos pelo estudo do texto da maestria verbal de Empédocles, de seu gosto pelas sutilezas da arte, vimos nele essa figura que a tradição biográfica sugere e que parece tão característica do século V em sua solidão e estranheza voluntária. Adivinhamos o médico ainda instruído na ciência dos feiticeiros, mas o vemos impaciente para comunicar, como Anaxágoras, seu contemporâneo, a explicação coerente e rigorosa que concebe, de modo que a magia e a atitude que ele empresta dos xamãs se tornam uma arma de persuasão e o primeiro recurso de seu talento. A personagem de Pausânias, o iniciado, é uma necessidade do gênero, se o discurso deve manter o caráter vinculativo da comunicação imediata. A arte que Empédocles praticava, a ciência da vida e da morte, continuava sendo privilégio dos taumaturgos e estava envolta no mistério dos magos, mas ele escrevia, como Parmênides, para ensinar. O sábio é muito mais do que um xamã, é tanto um sofista da raça de Protágoras quanto um democrata da era de Péricles.
As oposições que se descobrem em sua vida e em sua obra não constituem tanto os elementos díspares de uma síntese, mas correspondem à dificuldade que ele enfrentava para inserir a figura do sábio e do filósofo no movimento revolucionário das novas constituições.