psyche

psyché: respiração de vida, fantasma, princípio vital, alma, anima

1. Uma das incursões mais pormenorizadas de Aristóteles na história da filosofia (ver endoxon para o método e princípio envolvidos) ocorre no Livro I do De anima onde passa em revista e critica as opiniões dos seus predecessores sobre a natureza da psyche.

Tal como a vê, a especulação primitiva deu-se em relação à alma a partir de dois ângulos que tenderam a unir-se: a alma como o princípio do movimento (kinesis) e da percepção (aisthesis). Isto parece ser correto, embora, evidentemente, grande parte das provas sobre o assunto consista apenas naquilo que Aristóteles escolhe para citar; há, no entanto, duas facetas adicionais na história da psyche que Aristóteles ignora em grande parte: o uso pré-filosófico do termo e a psyche como fenômeno religioso.

2. A conexão entre a vida e o movimento por um lado e a consciência pelo outro não é de modo algum óbvia em Homero, que designa duas entidades separadas para explicar a vida e a consciência. Para Homero a psyche é a «respiração de vida» (e também, no que pode ser um estrato de crença completamente diferente, um «fantasma» individualizado que continua a viver de uma forma atenuada depois da morte) que se escapa normalmente da boca do herói moribundo (esta conexão com a cabeça pode ser o começo sugestivo da teoria posterior que localizou a sede da alma no cérebro: ver kardia e confrontar pneuma). Em contraste há o thymos, o espírito, localizado no diafragma (phrenes) onde um homem pensa e sente (ver kardia).

3. A psyche homérica estava intimamente ligada ao movimento pelo fato de a sua partida transformar o agregado de membros animados que era o «corpo» do herói num soma ou cadáver sem movimento. O thymos também está ligado ao movimento num sentido mais tarde explorado por Aristóteles; são os impulsos do thymos que impelem o herói à atividade.

4. O filósofo, ao contrário do poeta, conclui mais do que descreve. Podemos ver este hábito de espírito em Tales. Uma vez que, sustenta ele (Aristóteles, De anima I, 405a), o poder que origina a kinesis é uma indicação da presença da alma, não se devia concluir que mesmo algo aparentemente inanimado, como uma pedra, é animado visto que a pedra magnesiana (magnete) é capaz de mover outras coisas? O pensamento aqui é especialmente ousado pois que ignora completamente a presença do ar ou respiração. Todavia a atitude mais arcaica reaparece com Anaxímenes que, contudo, trai de fato uma certa ousadia muito sua ao alargar o princípio da alma ao universo total (frg. 2; ver pneuma). respiração parte do processo cognitivo (Diels 22A16; ver aisthesis),

5. A conexão entre a psyche e a respiração é intermitente entre os pré-socráticos. Anaximandro disse que a alma era «de ar» (Aécio IV, 3, 2), tal como Anaxágoras (ibid.). Heráclito faz da respiração parte do processo cognitivo (Diels 22A16; ver aisthesis), mas apenas durante o sono quando os outros sentidos estão afastados do logos cósmico. Diógenes de Apolônia, por outro lado, sustenta fortemente a conexão entre a psyche e o aer (ver pneuma) porque a vida depende dele (frgs. 4, 5).

6. Este elo com o passado homérico torna-se cada vez mais tênue à medida que a própria psicologia homérica é revista. Por volta do séc. VI a psyche tinha absorvido as funções do thymos homérico e era então o termo usado para descrever a totalidade psíquica do homem, enquanto, ao mesmo tempo, o agregado físico dos membros e das partes corpóreas cedia ao soma, já não como cadáver, mas como a unidade física que tem a psyche como o seu correlato psíquico. [Termos Filosóficos Gregos, F. E. Peters]