Excertos de Jean Brun, “Platão”
É verdade que durante a Idade Média a influência do aristotelismo parece prevalecer sobre o platonismo, mas o pensamento de Platão mantém-se vivo1) e podemos encontrá-lo até nas obras dos filósofos bizantinos, árabes e iranianos.
Todos os esquemas históricos que tentem seguir as várias direções em que o pensamento de um filósofo se perpetuou são por força dogmaticamente simplificadores; no entanto poder-se-ia dizer que o platonismo e o neoplatonismo cristão, depois de ter encontrado uma expressão importante nas obras do Pseudo-Dionísio, o Aeropagita (século VI?), reaparecem pelo menos em dois pontos diferentes da Europa2. Primeiro nos chamados místicos renanos do século XIV: Mestre Eckhart, Tauler, Suso3, o flamengo Ruysbroeck, o Admirável e depois no século XV em Nicolau de Cusa4. Em seguida, no Renascimento, em Itália, onde se assiste a uma verdadeira renovação dos estudos platônicos. Em Florença, Marcílio Ficino5 traduz Platão e Plotino para latim e inflecte-os no sentido do cristianismo. Toda uma corrente platônica e neoplatônica desenvolve-se com Telésio (1509-1588), Pico della Mirandola, contemporâneo de Ficino, e depois com Giordano Bruno (1548-1600) e Campanella (1568-1639).
Também importa não esquecer as relações do platonismo com a Pérsia. Segundo Eudóxio de Cnido no seio da Academia havia um grande interesse por Zoroastro; no século XII, o grande místico e teósofo iraniano Sohrawardi esforçou-se por fazer convergir a via de Zoroastro, a dos Magos e a de Platão6.
Por fim, lembremos que em 1578 Henri Estienne apresenta uma edição da obra de Platão que ainda hoje serve de edição princeps para as referências. Essas referências são reproduzidas na margem de todas as edições das obras de Platão e é a essa paginação internacional (números para as páginas, letras para as partes de página) que remetem todas as nossas citações.
Acerca do platonismo medieval cf. a comunicação de M. de Gandillac no congresso da Associação G. Budé (1953), e R. Klibansky, The continuity of the Platonic tradition during the Middle Ages, 2. ed., 1950 ↩
Também se deveria falar de Inglaterra. Cf. E. Cassirer, DIE PLATONISCHE RENAISSANCE IN ENGLAND UND DIE SCHULE VON CAMBRIDGE (Leipzig-Berlim, 1932; trad. inglesa, 1954). S. Hutin, Henry More. ESSAI SUR LES DOCTRINES THÉOSOPHIQUES DES PLATONICIENS DE CAMBRIDGE (Hildesheim, 1966). P.-S.— Acerca do problema das obras não escritas de Platão, cf. L. Robin, LA THÉORIE PLAT. DES IDÉES ET DES NOMBRES D’APRÈS ARISTOTE (Paris, 1908; 2. ed. Hildesheim, 1963). ↩
Cf. Henri Delacroix, ESSAI SUR LE MYSTICISME SPÉCULATIF EN ALLEMAGNE AU XIV SIÈCLE (Paris, 1899). Jeanne Ancelet-Eustache, MAÏTRE ECKHART ET LA MYSTIQUE RHÉNANE, Paris, 1956. ↩
Cf. M. de Gandillac, LA PHILOSOPHIE DE NICOLAS DE CUES, Paris, 1941 ↩
Cf. R. Marcel, MARCILE FICIN (Paris, 1958). ↩
Cf. J. Bidez e F. Cumont, LES MAGES HELLÉNISÉS (2.” ed., Paris, 1973). Henry Corbin, EN ISLAM IRANIEN, T. II: SOHRAWARDI ET LES PLATONICIENS DE PERSE, Paris, 1971 ↩