Sorabji: A Filosofia dos Comentadores e o Cristianismo

A Filosofia dos Comentadores de 200-600 AD constitui a transição da Filosofia Antiga para Medieval. O período começa com a Escola Aristotélica (Peripatética) em luta contra Estoicos e Platonistas. Mas logo Neoplatonismo se torna dominante, devorando as outras escolas, enquanto ainda demonstrando sua influência, especialmente aquela do aristotélico, Alexandre de Afrodísias. Ele, como a maioria dos outros, fez grande parte de sua filosofia através do comentário sobre a filosofia mais antiga, e eis aí porque os filósofos gregos deste período podem ser chamados de Comentadores. Os comentários de Alexandre, e a maioria mas não todos os que sobreviveram, são sobre Aristóteles.

Enquanto isso, o equilíbrio de poder balançou do Paganismo para o Cristianismo. Os dois lados mantinham-se em uma relação amor-ódio, que pode algumas vezes ser vislumbrada nos comentários. A teologia e espiritualidade do neoplatonismo influenciou profundamente a Filosofia Cristã. E assim a virada interna para buscar a verdade dentro de si mesmo, começado pelos Estoicos e desenvolvida pelos Neoplatonistas.

A Filosofia Neoplatonista, que por vezes usou e harmonizou as antigas escolas gregas em disputa, provou muito congenial à Filosofia de pelo menos duas culturas religiosas, primeiro aquela do Islã medieval do século IX ao final do século XII, e então aquela da Cristandade medieval latina do século XII em diante. Se pulamos de Platão e Aristóteles para Descartes dois mil anos mais tarde, ou para Tomás de Aquino 1600 anos mais tarde, não poderíamos compreender estes últimos pensadores, porque foram influenciados pelo que veio neste meio tempo. Tomás estava avidamente lendo os comentadores que existiram e foram traduzidos em latim e via Aristóteles através de suas lentes.

Os comentadores não eram apenas uma fonte de influência para posteridade. Seus comentários também provêm um panorama de até mil anos de antiga Filosofia Grega, e embutiram fragmentos daquela Filosofia de outra maneira perdida. Alguns dos comentários representam aulas e provêm o historiador com refrescantes luzes em métodos de ensino. Eles também contêm filosofia de imenso interesse por si mesma.

A influência dos comentadores é essencial para a compreensão da Filosofia Medieval Latina pois os Comentadores Neoplatonistas tornaram o Deus de Aristóteles um Criador e dotaram a alma humana com imortalidade. Seu motivo foi defender a harmonia de Platão e Aristóteles contra as acusações cristãs de inconsistência. Por uma ironia, esta harmonização acabou por fazer Aristóteles seguro para a Cristandade no século XIII, quando Guilherme de Moerbeke apresentava suas traduções latinas dos comentadores para Tomás de Aquino.

Os comentadores são também a fonte das principais ideias previamente consideradas como invenções dos séculos XIII e XIV do Ocidente latino: a ideia da teoria do ímpeto, destacada por Thomas Kuhn como uma revolução científica do século XIV, e a ideia de intencionalidade que, no século XIX, Brentano defendeu como retirada dos seguidores medievais de Tomás de Aquino e que ele fez uma peça central da moderna Filosofia da Mente. As primeiras obras de Galileu mencionam o comentador Philoponus mais frequentemente do que mencionam Platão.

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