gr. στοά, stoa. Na antiga arquitetura grega, pórtico, arcada, colonada. Deste termo derivou estoico e estoicismo, movimento filosófico que floresceu desde o século III AC, fundado por Zenão de Cítio.
Extrato de REALE & ANTISERI, História da Filosofia (v 1), p. 251-253
No fim do século IV a.C., a pouco mais de um lustro da fundação do “Jardim”, nascia em Atenas outra escola, destinada a tomar-se a mais famosa da época helenística. Seu fundador foi um jovem de raça semítica, Zenão, nascido em Cítio, na ilha de Chipre, por volta de 333/332 a.C. e que se transferiu para Atenas em 312/311 a.C., atraído pela filosofia. Zenão teve primeiro relações [252] com Crates, o Cínico, e com Estílpone Megárico. Ouviu também Senócrates e Polênion. Releu os antigos físicos e fez seus principalmente alguns conceitos de Heráclito, como veremos. Mas o acontecimento que mais o valoriza talvez tenha sido a fundação do “Jardim”. Como Epicuro, ele renegava a metafísica e toda forma de transcendência. Como Epicuro, concebia a filosofia no sentido de “arte de viver”, ignorada pelas outras escolas ou então só imperfeitamente realizada por elas. Mas, embora compartilhasse o conceito epicureu de filosofia, bem como o seu modo de propor os problemas, Zenão não aceitava sua solução para esses problemas, tornando-se um feroz adversário dos dogmas do “Jardim”. Repugnavam-lhe profundamente as duas ideias básicas do sistema, quer dizer, a redução do mundo e do homem a mero agrupamento de átomos e a identificação do bem do homem com o prazer, bem como as suas consequências e corolários. Não é de surpreender, portanto, que encontremos em Zenão e nos seus seguidores a clara derrubada de uma série de teses epicuristas. Todavia, não se deve esquecer que as duas escolas tinham os mesmos objetivos e a mesma fé materialista e que, portanto, trata-se de duas filosofias que se movem no mesmo plano de negação da transcendência e não de duas filosofias que se movem em planos opostos.
Como Zenão não era cidadão ateniense, não tinha direito de adquirir um prédio; por isso, ministrava suas aulas num pórtico, que fora pintado pelo pintor Polinhoto. Em grego, “pórtico” diz-se stoá. Por essa razão, a nova escola teve o nome de “Estoá” ou “Pórtico” e seus seguidores foram chamados “os da Estoá”, “os do Pórtico” ou simplesmente “estoicos”.
No Pórtico de Zenão, diversamente do Jardim de Epicuro, admitia-se a discussão crítica em torno dos dogmas dos fundadores da escola, fazendo com que tais dogmas ficassem sujeitos a aprofundamento, revisões e reformulação. Em consequência, enquanto a filosofia de Epicuro não sofria modificações relevantes, sendo na prática, somente ou preponderantemente repetida e glosada e permanecendo assim substancialmente imutável, a filosofia de Zenão sofreu inovações até notáveis, apresentando uma evolução bastante considerável.
Os estudiosos têm hoje bem claro que é necessário distinguir três períodos na história da Estoá: 1) O período da “Antiga Estoá”, que vai de fins do século IV a todo o século III a.C., no qual a filosofia do Pórtico foi pouco a pouco desenvolvida e sistematizada na obra da tríade da escola: o próprio Zenão, Cleanto de Assos (que dirigiu a escola de 262 a 232 a.C., aproximadamente) e, principalmente, Crísipo de Solis (que dirigiu a escola de 232 a.C. até o último lustro do século III a.C.). Foi principalmente este último, talvez de origem semítica, que, com mais de setecentos livros (infelizmente [254] perdidos), fixou de modo definitivo a doutrina do primeiro estágio da escola. 2) O período dito da “Média Estoá”, que se desenvolve entre ο II e ο I século a.C. e que se caracteriza por infiltrações ecléticas na doutrina original. 3) O período da Estoá romana ou da “Nova Estoá”, que se situa na era cristã, no qual a doutrina faz-se essencialmente meditação moral e assume fortes tons religiosos, em conformidade com o espírito e as aspirações dos novos tempos.
O pensamento dos primeiros representantes da velha Estoá é dificilmente diferenciável, porque todos os textos se perderam e, além disso, aqueles que recuperavam as doutrinas estoicas através de testemunhos indiretos atinham-se às inumeráveis obras de Crísipo, que, elaboradas com dialética e habilidade refinadas, obscureceram toda a produção dos outros pensadores da Estoá até fazê-la quase desaparecer. Além disso, foi Crísipo quem derrotou as tendências heterodoxas da escola, que se haviam verificado com Arístones de Quios e com Érilo de Cartago, desencadeando verdadeiros cismas. Por isso, a exposição da doutrina da velha Estoá é sobretudo uma exposição da doutrina na formulação que recebeu de Crísipo. Também são escassos os testemunhos precisos sobre os pensadores da Média Estoá Panécio e Possidônio, mas os dois pensadores são nitidamente diferenciáveis. Já no que se refere ao estoicismo romano, possuímos obras completas, numerosas e ricas.
LÉXICO: