virtude

Virtude/melhor forma/excelência (aretê)

Habitualmente traduzido por “virtude”, o termo “aretê” em grego tem um campo semântico essencialmente maior, estendendo-se não só a fatos éticos, mas também à ontologia, à psicologia ou à epistemologia, motivo pelo qual pode também ser traduzido por excelência, aptidão ou também eficiência (Górg. 479b) e perfeição (Górg. 518a; Leis 765e, 903b), o que evidencia a proximidade da aretê com o bem (Natorp 1921, p. 7, 49), pois a presença de uma determinada virtude condiciona o bem daquilo em que ela consiste (Górg. 506d). A aretê pode, portanto, ser considerada o conceito central da obra dialógica (Krämer 1959, p. 37). O conceito oposto reside na malignidade (kakia ou phaulotês: Crát. 415c-d; Górg. 499d, 504c-e; Rep. 353b-c, 444d; Leis 745d). O conceito derivado da linguagem cotidiana é retomado por Platão em sua pluralidade semântica, mas é filosoficamente fundamentado. Desde Homero, o conceito pode ser atestado como índice do ideal heroico ou nobre, de modo que é usado com o fim de legitimar o poder político, fato sobre o qual Platão continua a trabalhar em seu projeto de Estado; ainda nas Leis (630e-631a) as leis são declaradas por causa da virtude e partindo dela. No entanto, a original aptidão para a guerra — coragem ligada à inteligência estratégica de supervisão — como princípio de precedência na ética política será desligada da justiça (Maurer 1970, p. 59-61, 73), e nesse processo Platão une hierarquicamente os dois níveis na República; no Laques (198a) a coragem já é considerada parte da virtude. Platão sempre pensa no significado dos bens tradicionais para a virtude ou a vida boa, feliz, exitosa, e tenta criticar concepções anteriores, em parte rivais, de virtude, mas também, após purificá-las, busca integrá-las às suas próprias definições. Disso resulta a difundida diferença entre virtude verdadeira, apoiada na razão (Féd. 69a-c, 82a-b; Leis 632c, 710a, 951b), e suas cópias, imagens ilusórias, que podem se basear na distribuição divina, no exercício, no hábito, na paideia, na disposição natural, no cálculo das consequências de uma ação ou até mesmo no erro (Mên. 70a, 99e; Banq. 179a; Féd. 68c; Rep. 429d-430c, 518e-519b, 536a, 572d; Pol. 306a-b; Sof. 266c-d; Leis 653b, 968a), portanto em opiniões verdadeiras ou falsas. Essas formas da virtude, que jamais se tornam SABER, mas podem adquirir uma função estável, orientadora da ação, são chamadas por Platão de virtudes sociais ou civis (Apol. 20b; Prot. 324a; Féd. 82a-b; Rep. 430b; 500d; Leis 968a), imprescindíveis para a existência de uma comunidade (Gould 1955, p. 206; VLASTOS 1981, p. 204-217). Esse conceito de aretê é compreendido como um sobressair (Laq. 184c), uma realização de feitos de alto valor (Menex. 241c) ou qualidade (Alcib. 1 122d). Uma diretriz para a execução desse conceito reside no equilíbrio de dois extremos (maus), no princípio do mesos bios (Rep. 619a), que antecipa Aristóteles e exclui uma falta total de virtudes. Fundamentalmente, a virtude deve constituir um fim em si mesma, um bem autárquico, e ser almejada não por quaisquer consequências, como expectativas de recompensa ou punição [Rep. 357b-358d, 608c, 612b-d). [SCHÄFER]