Mitologia Grega – Hércules – Doze Trabalhos – PÁSSAROS DO LAGO ESTINFALO
Paul Diel
Mário Meunier
Robert Graves
2. O pântano de Estinfalo costumava aumentar de tamanho consideravelmente cada vez que se bloqueava o canal subterrâneo por onde ele desaguava, assim como sucedeu na época de Pausânias (VIII. 22. 6); Ifícrates, ao sitiar a cidade, teria deliberadamente fechado o canal, não houvesse sido impedido por um sinal dos céus (Estrabão: VIII. 8. 5). É bem possível que, numa das versões da história, Hércules tenha drenado o pântano, liberando o canal, tal como havia anteriormente drenado a Planície de Tempe (Diodoro Sículo: IV. 18).
3. O mito, entretanto, parece ter um significado histórico ao mesmo tempo que ritual. Aparentemente, um colégio de sacerdotisas árcades que adoravam a deusa tripla como Donzela, Noiva e Velha refugiou-se em Estinfalo após haverem sido todas expulsas da Ravina dos Lobos por invasores que adoravam o Zeus Lupino. Mnaseas deu uma explicação plausível à expulsão ou matança das aves estinfalianas referindo-se à supressão desse colégio de feiticeiras imposta por Hércules, ou seja, por uma tribo de aqueus. O nome Estinfalo sugere práticas eróticas.
4. As “aves árabes de bico forte” de Pausânias podem ter sido demônios da insolação, inofensivos graças à proteção dos peitos de cortiça espinhosa, e que foram confundidas com os avestruzes de bico duro que os árabes ainda costumam caçar.
Leucerodes, “garça branca”, é o nome grego da colhereira. Diz-se que um antepassado de Herodes, o Grande, foi um escravo do templo de Hércules Tírio (Africano, citado por Eusébio: História eclesiástica I. 6. 7), o que explica o nome da família. A colhereira está estreitamente relacionada ao íbis, outra ave do brejo consagrada ao deus Tot, inventor da escrita; e o Hércules Tírio, assim como o seu equivalente celta, era um protetor da cultura que tornou famosa a cidade de Tiro (Ezequiel XXVIII. 12). Na tradição hebraica, seu sacerdote Hiram de Tiro trocava adivinhas com Salomão.