Há uma «ideia» que nós fazemos acerca de todas as coisas na sua diversidade, às quais aplicamos o mesmo nome que damos àquela. Uma manifestação (eidos) é a unidade de sentido que nos permite compreender todo um conjunto de coisas na sua diversidade, na medida em que se trata do aspecto característico que cada coisa manifesta. Pelo aspecto essencial (eidos), a unidade de sentido (logos) e a inteligibilidade (logos) de cada coisa vem uma forma de manifestação.
Os objectos primeiramente considerados são os que nos são mais familiares, aqueles com que lidamos quotidianamente, como camas, mesas, cadeiras, as peças de mobiliário que se encontram numa casa por nós habitada. Estes objectos (skeue), apesar de diversificados uns dos outros, manifestam-se sempre num e no mesmo aspecto essencial (eidos), numa unidade de sentido que os faz compreender a todos como produções humanas que servem para um determinado uso, para o preenchimento de uma determinada função — a cama para dormir, a mesa para comer, a cadeira para sentar, etc.
Há uma ideia que fazemos do que é uma cama e do que é uma mesa que nos permite integrar e dar inteligibilidade às mais variadas formas e feitios de camas e de mesas. A forma de manifestação (eidos) não é nem a cama nem a mesa, mas o que permite integrar uma manifestação sensível num determinado sentido. A relva sobre a qual nos podemos deitar e um tronco de árvore onde podemos comer podem «fazer lembrar», «dão uma ideia» do que é, à vez, uma cama e uma mesa. O artesão faz camas e mesas, tendo em vista esta ideia íntegra e indissolúvel de cama e de mesa. A ideia não é apenas nem principalmente a forma particular que cada mobília pode assumir, mas antes o que fornece a possibilidade de compreendermos o sentido de uma cama e de uma mesa, na medida em que é o que nos dá acesso ao seu uso.