Enéada I,1,12 — Retorno sobre o problema da impecabilidade da alma separada.

12. Mas se a Alma é sem pecado, como podem haver expiações? Aqui certamente há uma contradição; por um lado a Alma está acima de toda culpa; por outro, ouvimos de seu pecado, sua purificação, sua expiação; está condenada ao mundo inferior, passa de corpo em corpo.

Podemos qualquer visão a vontade: elas são facilmente reconciliáveis.

Quando falamos da Alma sem pecado, fazemos Alma e Alma-Essencial uma única coisa: é a simples Unidade indivisível.

Por Alma sujeita ao pecado indicamos um agrupamento, incluímos aquela outra, aquela fase da Alma que conhece todos os estados e paixões: a Alma no sentido de composto, toda inclusiva: cai sob as condições da experiência vivida integral: este componente é o que peca; é isto, e não o outro, que paga penalidades.

É neste sentido que lemos da Alma: “Nós a vimos como aqueles outros viram o deus do mar Glaucos”. “E”, lemos ainda, “se queremos discernir a natureza da Alma devemos despi-la de tudo que juntou a ela, devemos aprofundar na filosofia dela, examinar com que Existências ela tocou e por afinidade com quais Existências é o que é”.

Assim a Vida é uma coisa, o Ato é outra e o Expiador outra ainda. O retiro e separação, então, não deve ser somente deste corpo, mas de todo agregado estranho. Tal agregado tem lugar no nascimento; ou melhor o nascimento é vir a ser desta outra fase (inferior) da Alma. Pois o sentido do nascimento foi indicado em outra parte; se dá pela descida da Alma, algo sendo abandonado pela Alma ao invés de realmente descer em descaimento.

Então a Alma deixou esta imagem cair? E este descaimento não é certamente pecado?

Se o descaimento não é mais que a iluminação de um objeto abaixo, ele não constitui pecado: a sombra deve ser atribuída não a luminária mas ao objeto iluminado; se o objeto não estivesse lá, a luz não causaria sombra.

E a Alma é dita descer, declinar, somente no sentido que objeto que ela ilumina vive por sua vida. E ela deixa a imagem cair somente se não há nada próximo para levantá-la; e ela deixa cair, não como uma coisa seccionada, mas como uma coisa que deixa de ser: a imagem não tem mais ser quando toda a Alma está mirando o Supremo.

O poeta, também, na história de Hércules, parece ter dado a esta imagem, existência separada; ele põe a sombra de Hércules no mundo inferior e Hércules ele mesmo entre os deuses: tratando o herói como existindo em dois reinos ao mesmo tempo, ele nos dá um Hércules duplo.

Não é difícil explicar esta distinção. Hércules era um heróis de virtude prática. Por sua serventia ele foi digno de ser um Deus. Por outro lado, seu mérito foi ação e não Contemplação o que poderia colocá-lo sem reservas no reino superior. Portanto enquanto ele era posto acima, algo nele permanecia abaixo.