energeia

enérgeia: funcionamento, atividade, ato, atualização

1. O uso técnico de enérgeia é uma inovação aristotélica e um correlato do seu conceito de dynamis como capacidade. A análise de gênesis na Física continua a abordagem já iniciada por Platão no seu relato da gênesis pré-cósmica no Timeu, i. e., a transição de poderes ou qualidades opostos num substrato, com o aperfeiçoamento da privação (steresis) adicionado por Aristóteles que responde às objeções de Parmênides sobre a questão do não-ser. Mas no fim deste tratamento da questão, Aristóteles refere-se a outra linha de abordagem do problema que desenvolverá noutro lugar com maior profundidade, a saber, uma análise baseada na dynamis e na energeia (Physica I, 191b).

2. Esta análise, exposta na Metafísica, apresenta dificuldades metodológicas dado que nem a dynamis nem a energeia são susceptíveis de definição no sentido vulgar, mas apenas podem ser ilustradas por exemplo e analogia (Metafísica 1048a). Mas é, não obstante, de primordial importância pelo fato de transcender a mera cinética da Física: estamos agora no cerne de uma análise do ser (ibid. 1045b-1046a), análise que permitirá a Aristóteles lidar com as entidades transcendentes e imperecíveis do mundo supralunar e do Primeiro Motor.

3. A relação entre kinesis e energeia é explorada pela primeira vez. Ficamos a saber que é o movimento que primeiro sugere a noção de energeia (ibid. 1047a), mas que permanece uma diferença no fato da kinesis ser essencialmente incompleta (ateies), i. e., é um processo no sentido de um objetivo ainda não alcançado (notar que a kinesis dos elementos cessa quando estes alcançaram o seu «lugar natural»; ver stoicheion), enquanto que a energeia é completa; não é processo mas atividade (ibid. 1048b).

4. Igualmente esclarecedora a derivação que Aristóteles faz da energeia a partir da função (ergon). A função é aquilo que uma coisa está naturalmente apta a fazer, i. e., para cuja realização ou feitura tem uma capacidade (dynamis). Assim temos a noção de energeia, o estado de se encontrar em ação, em funcionamento (ibid. 1050a). Rapidamente Aristóteles atinge a noção correlativa de fim (telos). Uma vez que a função é o fim, a energeia está obviamente relacionada com a entelecheia, encontrando-se num estado de completude. Deste modo é descrita e delimitada a energeia: é o funcionamento de uma capacidade, a sua realização e atualização, normalmente acompanhada de prazer (para as implicações éticas disto, ver hedone), e anterior à potência na definição, no tempo e na substância (ibid. 1049b-1050a).

5. A prioridade da energeia na substância introduz novas e importantes considerações. Dynamis é a capacidade de uma coisa ser outra além da que é; não existe necessariamente. Isto pode referir-se quer à sua ousia quer às várias dynameis para mudanças de quantidade, qualidade ou lugar. Assim o movimento eterno dos corpos celestes, sendo eterno, é pura energeia; não pode ser de outro modo se bem que possam ter dynameis para mudança acidental de lugar (ibid. 1050b; a gênese eterna e cíclica dos elementos é uma mimesis disto; ver gênesis).

6. No fim deste processo dialético encontra-se a suprema energeia que em última análise está por trás e atualiza cada dynamis no universo, o Primeiro Motor (ver kinoun) cuja energeia absolutamente pura é a noesis: «a vida é a energeia do noûs; ele é essa energeia» (ibid. 1072b). (Termos Filosóficos Gregos, F. E. Peters)


Ato é, no sentido corrente, sinônimo de ação, no sentido de movimento cumprido por um ser humano com vistas a um fim. Designa em particular as ações tendo um efeito legal e as peças oficiais que as consignam. Em seu uso filosófico, o termo é tomado à concepção aristotélica do ser e da mudança. Serve para traduzir seja energeia (a mudança em curso de atualização) seja entelechia (a conclusão de uma mudança realizada). Ser em ato se opõe a ser em potência, resultando que o ato pode designar toda realidade efetiva. (Notions philosophiques)

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