eros

gr. ἔρος, érôs: desejo, amor. Força de união e de engendramento, érôs, “desejo apaixonado”, desempenha nas cosmogonias o papel de um modelo de atração, de fecundidade e de ordem., aquele de uma causa motora e ordenadora. (v. philia) (Gobry)


Descrevendo em modo mítico a “queda” das almas nos corpos, o Fedro (248c) situava no mais baixo nível aquelas que cabem aqui em baixo aos tiranos e aos sofistas, em um nível muito pouco superior aquelas dos magos e dos poetas (entendidos como profissionais da “imitação”), dos artesãos e dos cultivadores, dos adivinhos, dos atletas e dos médicos — sensivelmente mais alta aquelas dos servidores honestos da coisa pública, guerreiros corajosos e soberanos que respeitam as leis — em primeiro nível enfim aquelas que, beneficiando Acima, antes de sua queda, de uma mais rica visão do Bem, animam naturalmente aqui em baixo os amigos da sabedoria e da beleza, os amamentados das Musas e os verdadeiros amantes (erotikoi). (Maurice de Gandillac)


Em Pselo, Padre da Igreja e filósofo neoplatônico tardio, a polaridade negativa da demonologia, já presente com impressionante riqueza de detalhes no De abstinentia de Porfírio, que apresenta, entre outras coisas, sob a influência dos demônios maléficos, a confecção de filtros amorosos, já aparece fundida com a doutrina do espírito fantástico como veículo da fascinação e do enamoramento, ao mesmo tempo em que se ressalta o caráter obscuro e sinistro do demônio aéreo, que se torna agora o agente específico da patologia erótica, dos seus desvarios e dos seus fantasmas. Segundo tal teoria, o demônio aéreo – definido brevemente como “aéreo” — age sobre o espírito fantástico dos homens e assim como o ar na presença da luz, assumindo forma e cor, transmite-os àqueles corpos que são por natureza aptos para os receber (como acontece com os espelhos), assim também os corpos dos demônios, assumindo, da essência fantástica interior, as figuras, as cores e as formas que querem, os transmitem ao nosso espírito, sugerindo-nos ações e pensamentos, e suscitando em nós formas e memórias. Desta forma, eles evocam simulacros de volúpia e de paixão em quem dorme e nos que estão despertos, e frequentemente nos excitam a virilha e instilam em nós amores insanos e iníquos.

A identificação entre (demônio) aéreo e Eros é tão completa a ponto de Pselo afirmar que os demônios aéreos lançam “flechas de fogo” que lembram de perto os ígneos raios espirituais do deus do amor.1 (AgambenE:198)


LÉXICO: ; ; ;


  1. PSELLUS. De daemonibus. Trad. it. de Marsílio Ficino, in aedibus Aldi. Venetiis, 1516, ρ. 51. 

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