Mitologia Grega – Hércules – Doze Trabalhos – Estábulos de Augias
(tabby title=”Paul Diel”)Hércules limpa as cavalariças de Augias, símbolo do subconsciente. O lodo indica a deformação banal. O herói faz com que o rio Alfeo, símbolo de purificação, passe através das cavalariças imundas e liberta os bois luzentes, símbolo de sublimação. O rio ér símbolo da fluência da vida, e seus acidentes sinuosos representam os acontecimentos da vida diária. O símbolo rio faz parte do simbolismo da água, cujos dois outros aspectos são a imensidão do mar e o pântano estagnado. O lodo excrementoso é aqui uma variante do pântano. Lavar a cavalariça com o rio significa purificar a alma (subconsciente) da estagnação banal pela atividade vivificante e sensata, com o fim de libertar os bois luzentes e assim alcançar a vida sublime.
(tabby title=”Mário Meunier”)
Euristeu impôs, em seguida, a Hércules a repugnante tarefa de limpar, em um dia, as estrebarias de Augias, rei da Elida. Êste príncipe possuía inumeráveis rebanhos. Seus estábulos, onde estavam fechados mais de tres mil bois, não tendo sido limpados havia trinta anos, estavam obstruídos por tanto estéreo, que não se conseguia acabar com o cheiro nauseabundo que dele se espalhava pelos arredores. Para vencer o trabalho, Hércules fez uma abertura num dos muros do estábulo, desviou o curso do Alfeu e fez extravasar, através da estrebaria, a torrente de suas águas purificantes e velozes.
(tabby title=”Robert Graves”)
Euristeu mandou Hércules capturar, no seu Oitavo Trabalho, as quatro éguas selvagens do rei trácio Diomedes — discute-se se ele era filho de Ares com Cirene ou se havia sido fruto de uma relação incestuosa entre Astéria e seu pai Atlas —, que governava os belicosos bístones e cujos estábulos, situados na agora desaparecida cidade de Tirida, eram o terror da Trácia. Diomedes mantinha as éguas amarradas com correntes de ferro a manjedouras de bronze, e as alimentava com a carne de seus hóspedes, que de nada desconfiavam. Uma versão desta história diz que se tratava de garanhões, e não de éguas, e que se chamavam Podargos, Lampo, Xanto e Deino.
b. Com a ajuda de alguns voluntários, Hércules zarpou para a Trácia, visitando, no caminho, o rei Admeto de Feres, seu amigo. Quando chegou a Tirida, ele subjugou os cavalariços de Diomedes e conduziu as éguas para o litoral, onde as deixou num outeiro a cargo de seu valete Abdero, e depois voltou para rechaçar os bístones que vinham em seu encalço. Embora fossem mais numerosos, ele conseguiu derrotá-los mediante a engenhosa abertura de um canal que fez com que o mar inundasse a planície baixa e, quando seus inimigos deram meia-volta e se puseram a correr, ele os perseguiu, deixou Diomedes sem sentido com um golpe de sua clava, arrastou seu corpo em torno do lago que havia se formado e o colocou diante das próprias éguas, que devoraram sua carne enquanto ele ainda estava vivo. Quando estavam plenamente saciadas — pois, durante a ausência de Hércules, elas haviam devorado também Abdero —, ele as dominou sem grande dificuldade.
c. Segundo outro relato, Abdero, apesar de ser natural de Opunte, na Lócrida, estava a serviço de Diomedes. Há quem o chame filho de Hermes, ao passo que outros se referem a ele como filho do amigo de Hércules, Menécio de Opunte; portanto, irmão de Pátroclo, que morreu em Troia. Após fundar a cidade de Abdera junto à tumba de Abdero, Hércules se apoderou da carruagem de Diomedes e nela atrelou as éguas, embora elas, até então, não houvessem conhecido freio nem rédeas. Ele as conduziu a toda velocidade através das montanhas até chegar a Micenas, onde Euristeu as dedicou a Hera e as deixou em liberdade no monte Olimpo. Mais tarde, elas foram devoradas por animais selvagens. Entretanto, há quem afirme que seus descendentes sobreviveram até a Guerra de Troia, inclusive até a época de Alexandre, o Grande. As ruínas do palácio de Diomedes ainda podem ser vistas em Cartera Come e, em Abdera, ainda se celebram os jogos atléticos em homenagem a Abdero, que incluem as provas costumeiras à exceção da corrida de carros, o que explica a história segundo a qual Abdero teria morrido quando as éguas antropófagas destroçaram o carro ao qual ele as havia atrelado.
1. Colocar as rédeas num cavalo chucro com o propósito de sacrificá-lo numa cerimônia (vide 75. 3) parece ter sido um rito de coroação em algumas regiões da Grécia. O domínio de Hércules sobre Árion (vide 138. g) — façanha realizada também por Onco e Adrasto (Pausânias: VIII. 25. 5) — tem seu paralelismo na captura de Pégaso por Belerofonte. Este mito ritual combinou-se, neste caso, com uma lenda segundo a qual Hércules, representando talvez os teanos que arrebataram Abdera aos trácios (Heródoto: I. 168), anulou o costume pelo qual mulheres selvagens com máscaras de cavalo perseguiam e devoravam o rei sagrado no fim de seu reinado (vide 27. d); em vez disso, ele era morto num acidente de carro arranjado (vide 71. 1; 101. g e 109. j). A omissão da corrida de carros nos jogos fúnebres de Abdera indica a proibição de tal sacrifício organizado. Podargos chama-se assim por causa da harpia Podarge, mãe de Xanto, um cavalo imortal que Poseidon deu a Peleu como presente de casamento (vide 81. m). Lampo evoca Lampão, um dos cavalos de Eos (vide 40. a). A afirmação de Diodoro de que essas éguas permaneceram em liberdade no Olimpo pode significar que o culto aos cavalos canibais sobreviveu lá até a época helênica.
2. Os canais, túneis ou ductos naturais subterrâneos eram descritos com frequência como sendo obra de Hércules (vide 127. d; 138. d e 142. 3).(tabbyending)
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