eidos (tó) / eidos (to): essência, ideia, forma, gênero, espécie. Latim: species, forma, essentia.
A palavra eidos tem múltiplos sentidos, que encerram, de qualquer maneira, a noção de generalidade, seja nos seres, seja na inteligência.
Eidos deriva do verbo arcaico e poético eídomai / eidomai: apareço (sou visto); donde o sentido primeiro de eidos: aspecto, aparência. O perfeito do inusitado eido / eido: ver, oída / oída, adquire um sentido presente: sei. Só tardiamente e de modo acessório eidos adotou o sentido filosófico; é a palavra latina species, que significa ao mesmo tempo aspecto e espécie, que traduz melhor o duplo sentido. O próprio sentido filosófico pode adquirir diferentes significados: metafísico, físico, psicológico e lógico.
Sentido metafísico. A essência dos seres. Pode ser de duas espécies.
a. Transcendente às coisas. E o sentido platônico. As Essências formam o Mundo Inteligível. São as verdadeiras Realidades (Fedro, 247c), existem em si (Fédon, 75d) e por si (Fédon, 65c, 78d; Parmênides, 133a). A Essência é substância (ousía) (Teeteto, 186d); é eterna, sem começo nem fim (agéneton kai anólethron, Timeu, 52a); é perfeita, absolutamente pura, ou seja, não admite nenhum elemento estranho a si mesma (ibid.). E às Essências que se deve atribuir a existência do mundo sensível, pelo fenômeno da participação (méthexis), graças ao qual as coisas são constituídas com base no modelo (eikón) das Essências. Em Sofista (247d-256d), Platão coloca no ápice das Essências cinco delas que foram chamadas, restringindo-se à sua significação lógica, Gêneros supremos; são o Ser (tò ón / to on), o Movimento (he kínesis / he kinesis), o Repouso (= estabilidade, he stásis / he stasis), o Mesmo (tautón / tauton) e o Outro (tò héteron / to heteron). Platão exprime o em-si, que é a Essência, quer pelo adjetivo autos: ele mesmo, quer pela fórmula hó esti / ho esti: o que é. Aristóteles empenhou-se na crítica da filosofia das Essências1 própria de Platão, especialmente na Metafísica (A, 9; Z, 14 e 15; M, 4). Ele costuma designar a Essência platônica com o termo idéa / idea.
b. Imanente às coisas. Esse sentido já se encontra em Pitágoras: ele atribui às essências (eíde e ideai) “uma existência inseparável dos corpos” (Aécio, I, X, 2; Estobeu, Ed., I, XII, 6). Em Aristóteles, as formas específicas (eíde) são idênticas à quididade (tò tí ên einai), ou seja, aquilo pelo que elas se definem; elas são assim imanentes às realidades (Met., Z, 4). Em De anima (II, 2), a alma, na qualidade de forma do corpo, é chamada ao mesmo tempo de eidos e morphé. Assim, a substância humana pode ser definida quer pela matéria, quer pela forma (eidos), quer pelo composto das duas. Encontra-se essa noção em Plotino: a alma é uma forma (eidos) imanente a si mesma (I, I, 2) e o mal (tò kakón) é a forma do não-ser: mè ón (I,VIII, 3).
Sentido físico. E o sentido metafísico aplicado aos seres da natureza. E próprio de Aristóteles e frequentemente tem como sinônimo morphé / morphe. Convencionou-se então traduzir esse duplo termo como forma. As realidades sensíveis são compostas por dois princípios: matéria (hyle / hyle) e forma (Fís., II, 1; IV, 3).A forma, assim, é uma causa: aitía / orixía (Fís., II, 3,7).
Sentido psicológico: ideia mental. Encontra-se eidos com esse sentido em Diógenes de Apolônia (fr. 8) e em Parmênides (fr. VI, 4); neste último, o plural é eidótes / eidotes. Mas também é encontrado em Platão, na esteira de Sócrates; este emprega então de preferência idéa; assim é a ideia do Bem que temos em nosso pensamento (Crátilo, 418e; Rep., VII, 534b): a ideia do Ser, obtida pelo raciocínio (Sofista, 254a).
Sentido lógico: ideia geral, ou imagem da essência universal das coisas no pensamento. A ideia mental, quando adquire um sentido que pode definir toda uma classe de ideias, torna-se essência lógica. E assim que, em Fedro (249b-c), Sócrates incentiva os ouvintes a adquirir a ideia (eidos) por meio de um exercício racional que vai da multiplicidade das sensações à unidade. Essa palavra pode então assumir o sentido de espécie; em Parmênides (129d-e), são enumerados três pares de contrários: semelhança e dessemelhança, pluralidade e unidade, repouso e movimento. Para Aristóteles, a definição (horismós / horismos) de um ser não é feita de acordo com a matéria, mas com a forma (eidos) (Met., Z, 10). Em outro lugar, ele vê o eidos como a espécie no gênero (génos) (Fís., IV, 3). É nesse sentido de espécie que o termo às vezes é empregado: há quatro espécies de realeza (Pol, IV, IV, 24); três espécies de retórica (Ret., I, III, 1); três espécies de desprezo (ibid., II, II, 2).
1. Não se deve dizer “idealismo platônico” pretextando-se que a filosofia de Platão é doutrina das Ideias. O idealismo é uma teoria que vê o pensamento como única existência ou como fundamento da realidade; ora, as Ideias platônicas, único fundamento da realidade, existem realmente fora do pensamento: portanto, é um realismo e até um hiper-realismo. (Gobry)