HEIDEGGER, Martin, O Sofista. Trad. Marco Antonio Casanova. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012, p. 21-22.
Aristóteles introduz a investigação propriamente dita presente em Ética a Nicômaco, VI,3 com uma enumeração programática dos modos de aletheuein (desvelamento): “Cinco são os modos, portanto, nos quais o ser-aí humano descerra o ente como atribuição e negação. E esses modos são: saber-fazer — na ocupação, na manipulação, na produção —, ciência, circunvisão — intelecção —, compreensão, suposição apreendedora”. Como anexo, Aristóteles acrescenta a hypolepsis, o tomar por, considerar algo como verdadeiro, e a doxa, a visão, a opinião. Esses dois modos do aletheuein (desvelamento) caracterizam o ser-aí humano em seu endechetai (ter acolhido): endechetai diapseudesthai; na medida em que o ser-aí humano se movimenta nesses modos do desvelamento, ele pode se enganar. A doxa (opinião) não é simplesmente falsa; ela pode ser falsa; ela pode dissimular o ente, colocar-se diante dele. Todos esses diversos modos de aletheuein (desvelamento) encontram-se em uma conexão com o logos (discurso); tudo, menos o noûs (pensamento), é aqui meta logou (por meio do discurso); não há nenhuma circunvisão, nenhuma intelecção, nenhuma compreensão, que não seria fala. A techne (arte) é o saber-fazer na ocupação, no manuseio, na produção, que pode se conformar em graus diversos, tais como, por exemplo, no sapateiro e no alfaiate; ela não é o próprio manuseio e o próprio fazer, mas um modo de conhecimento, precisamente o saber-fazer que guia a poiesis (produção poética). A episteme (ciência) é o termo para aquilo que se designa como ciência. A phronesis é a circunvisão (intelecção), a sophia (sabedoria), o compreender propriamente dito, o noûs o notar, que apreende o notado. O noein (pensar) já vem à tona imediatamente junto ao começo decisivo da filosofia grega e ocidental, em Parmênides: o mesmo é o notar e o notado.