hexis (Caeiro:EN:282-283)

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. António Caeiro. Lisboa: Quetzal, 2015, p. 282-283

O terminus technicus ἔξις (hexis) dificilmente é vertido para português de um modo tão conciso e com o poder semântico do original grego. Na verdade, se a tradução latina pela palavra habitus ou pela solução composta de Bonitz actio habendi, cf. H. BONITZ (1992) pp. 267 e ss. já se afastam do sentido original grego, a fortiori se afastam as versões portuguesas daqueles termos latinos. Não podemos traduzi-los por hábito nem sequer por estado. As soluções de algumas línguas modernas podem eventualmente sortir efeito, como no caso da alemã de Dirlmeier, Cf. DIRLMEIER (1999), «Grundhaltung», passim. Adoptamos a solução «disposição», mas sem, contudo, podermos deixar de pensar que se trata de um «modo de ser constituído por aquisição e de que se pode dispor permanentemente». Uma outra ressalva ter-se-á, também, de fazer. É que o próprio termo disposição, διάϑεσις (diathesis), existe também como terminus technicus em Aristoteles, e na mesma constelação de sentido do termo ἔξις, cf., MF 1022b e ss. Aí mostra-se como uma disposição, διάϑεσις, é uma organização, τάξις (taxis), de acordo com um lugar (τόπος (topos)), um poder (δύναμις (dynamis)) ou de acordo com uma forma (είδος (eidos)). A ἔξις é, por outro lado, uma certa actividade do que tem e do que é tido. É nesse sentido que os dois conceitos se interpenetram. Um estado é uma disposição de acordo com a qual o que está disposto está bem ou mal disposto. Contudo, assim nos parece, podemos traduzir ἔξις por disposição, porque apresenta uma especificidade semântica na Ética a Nicômaco. Ou seja, em causa está aquele tipo de ἔξις que exprime a constituição de um modo de ser que altera pela sua actuação para o bem ou para o mal o que está exposto ao efeito produzido pela sua acção.