Mitologia Grega – Hércules – Doze Trabalhos – Hidra de Lerna
Paul Diel
Mário Meunier
Robert Graves
b. Lerna está localizada junto ao mar, a uns oito quilômetros da cidade de Argos. A oeste se ergue o monte Pontino, com seu bosque sagrado de plátanos que se estende até a praia. Nesse bosque, limitado de um lado pelo rio Pontino — junto ao qual Dânao dedicou um altar a Atena — e do outro lado pelo rio Amimone, encontram-se as imagens de Deméter, Dionísio Salvador e Prosimna, uma das amas de Hera; e, às margens do rio, ergue-se uma imagem de pedra de Afrodite, dedicada pelas danaides. Todos os anos realizam-se ritos noturnos secretos em homenagem a Dionísio, que desceu de lá para o Tártaro quando saiu em busca de Sêmele, e não longe dali celebram-se os mistérios da Deméter de Lerna num recinto que indica o lugar onde Hades e Perséfone também desceram ao Tártaro.
c. Esse território fértil e sagrado viu-se aterrorizado num determinado momento pela hidra, que mantinha sua guarida debaixo de um plátano na fonte sétupla do rio Amimone e frequentava o insondável pântano de Lerna perto dali — o Imperador Nero tentou determinar sua profundidade mas fracassou —, que se tornou a tumba de vários viajantes incautos. A hidra tinha um enorme corpo de características caninas, e oito ou nove cabeças serpentinas, uma das quais imortal. Mas alguns lhe atribuem cinquenta, cem, e até mesmo dez mil cabeças. De qualquer modo, ela era tão maligna que só o seu hálito venenoso, ou o odor de seu rastro, era capaz de destruir qualquer criatura viva.
d. Atena havia meditado sobre qual seria a melhor maneira de Hércules matar o monstro e, quando ele chegou a Lerna de carro, conduzido por Iolau, ela lhe indicou o local do esconderijo da hidra. Aconselhado pela deusa, ele obrigou a hidra a sair, atirando sobre ela flechas ardentes e, depois, prendeu a respiração enquanto a agarrava. Mas o monstro enroscou-se nos seus pés, no intuito de derrubá-lo. Debalde, Hércules golpeava suas cabeças com a clava, pois, tão logo lhe esmagava uma, nasciam duas ou três no seu lugar.
e. Um caranguejo enorme saiu do pântano para ajudar a hidra, mordendo Hércules no pé. O herói esmagou-lhe furiosamente a carapaça e pediu a Iolau que pusesse fogo a um bosque vizinho. Para impedir que brotassem novas cabeças na hidra, cauterizou suas raízes com ramos em chamas, contendo, assim, o fluxo do sangue.
f. Utilizando então uma espada ou uma cimitarra de ouro, Hércules cortou a cabeça imortal, parte da qual era de ouro, e a enterrou, enquanto ainda silvava, debaixo de uma pesada rocha junto à estrada de Eleu. Depois, ele retirou as entranhas da carcaça e encharcou suas flechas na bile venenosa. Desde então, a menor ferida causada por uma delas resultava sempre fatal.
g. Em recompensa pelos serviços do caranguejo, Hera colocou a sua imagem entre os doze signos do zodíaco; mas Euristeu não quis contar esse Trabalho como devidamente cumprido, pois Iolau havia proporcionado a Hércules os tições.