Plotino argumenta em Enéada III, 8, 9, 1-13 que posto que o Noûs tem uma necessidade de ver e de agir, relaciona-se a um princípio mais alto, em respeito ao qual e devido ao qual vê e age; este princípio é o Bem (que é o mesmo que o Uno, como afirmado em Enéada III, 8, 11).
O Uno, ou Bem, foi demonstrado pela necessidade do Noûs por um princípio e um bem. O Noûs é outro que o Bem; o causado é outro que a causa. O Uno é assim uma hipóstase distinta, uma «natureza» distinta.
É chamado o Bem — o Bem no sentido que todas as coisas, primordialmente o Noûs, o desejam, agem em sua direção, agem por causa dele (Eneada III, 8, 11; Eneada-VI, 8, 7) — são o que são por causa dele (Eneada-VI, 7, 23) e conhecem por um desejo de conhecê-lo (Eneada-V, 6, 5). É o bem de todas as coisas. Mas isto significa que é o bem para si mesmo? Obviamente não, posto que «bem para si mesmo» envolve a dualidade: O Bem não tem bem, posto que não há nada além dele.
O primeiro nascido do Uno é portanto a Inteligência. Ela tem necessidade do Uno, mas o Uno não tem necessidade dela. O Uno engendra a sua imagem: com mais razão ainda quando se trata de seu produto mais perfeito. Eis porque em se voltando para o Uno, a Inteligência recebe a « forma do Bem » (agathoeides ginetai) e o contato do Uno a conduz a sua perfeição, pois ela recebe do Uno uma forma (eidos) que lhe dá esta « forma do Bem ». Ou em termos equivalentes há na Inteligência um traço (ichnos) do Bem: para chegar ao Bem, o Modelo (archetypos), é preciso partir pelo pensamento deste « traço » do Bem estendido na Inteligência (Eneada-III, 11, 1). Assim como aquele que contempla o espetáculo do céu estrelado sobre igualmente àquele que o fez (ton poiesanta), provavelmente a Inteligência, do mesmo modo aquele que contempla o mundo inteligível, aquele das ideias contido na Inteligência, alcança a seus «criador» (poieten), « aquele que engendrou um tal filho, a Inteligência ». Plotino emprega habitualmente para exprimir o conceito de Criador tanto demiourgos como poietes, mas estes termos não são aplicados somente ao Uno, são também à Inteligência e à Alma do Mundo.
Tudo isso é dito a respeito do outro nome pelo qual o Uno é designado, o Bem. Dizer que ele é o Bem não é dizer que tem nele algo de bom. Ele nada pode ter de não bom, mas em demasia de bom. Nada de outro, bom ou não bom, ele é o Bem, pois nada se lhe pode adicionar. Se se faz, ele não é mais o Bem, se o diminui, e não é louvá-lo fazer louvores que são inferiores a isto que ele é: se lhe fará Bem por participação, o que quer dizer que se faria vir o Bem de outra coisa. Autor de tudo ele é melhor e mais perfeito que o que fez (Eneada-V, 5, 11).