Pássaros do Lago Estinfalo

Mitologia Grega – Hércules – Doze Trabalhos – PÁSSAROS DO LAGO ESTINFALO

(tabby title=”Paul Diel”)Com suas flechas, símbolo de espiritualização, o herói caça os pássaros do Lago Estínfalo, cujo voo obscurece o sol. Como o pântano, o lago é símbolo de estagnação. Os pássaros que alçam voo são uma representação da exaltação imaginativa dos desejos perversos e múltiplos. Saídos do subconsciente, onde se encontram estagnados, entrando em estado de exaltação imaginativa, os desejos múltiplos põem-se a voltear, e sua afetividade perversa termina por obscurecer o espírito.
(tabby title=”Mário Meunier”)
No meio de um paul coberto de espinhos e de urzes, e próximo a um lago que se chamava Estinfalo, viviam, pastando carne humana e ao abrigo dos próprios lobos, alguns pássaros monstruosos. Esses lactentes de Ares, do Deus temível da guerra, tinham o bico, as garras e as asas de bronze. Serviam-se das penas como de dardos acerados para matar os caminhantes e deles tirar seu alimento. Hércules foi encarregado de afastar de seus pauls as aves vorazes que, não satisfeitas de devorar os rebanhos e os homens, devastavam os jardins e contaminavam as colheitas. Para faze-las sair de seu inabordável esconderijo, o Herói magnífico serviu-se de címbalos. Postado sobre uma montanha vizinha, fez tanto barulho com os instrumentos, que os pássaros voaram em bandos, o que permitiu ao valente arqueiro abate-los e exterminá-los.
(tabby title=”Robert Graves”)
1. Embora Atena continue ajudando Hércules, este Trabalho não pertence à sequência de tarefas relacionadas ao matrimônio, mas o glorifica como o curandeiro que expulsa os demônios da febre, identificados com as aves do brejo. As aves com elmo que aparecem nas moedas estinfalianas são colhereiras, primas do grou, que aparecem em gravuras medievais inglesas sorvendo o hálito dos doentes. De fato, são sereias com patas de ave, personificações da febre, e as castanholas, ou matracas, eram utilizadas na Antiguidade (e ainda estão em uso entre os povos primitivos) para afugentar os demônios da febre. Ártemis era a deusa que tinha o poder de produzir ou curar a febre com suas “flechas misericordiosas”.

2. O pântano de Estinfalo costumava aumentar de tamanho consideravelmente cada vez que se bloqueava o canal subterrâneo por onde ele desaguava, assim como sucedeu na época de Pausânias (VIII. 22. 6); Ifícrates, ao sitiar a cidade, teria deliberadamente fechado o canal, não houvesse sido impedido por um sinal dos céus (Estrabão: VIII. 8. 5). É bem possível que, numa das versões da história, Hércules tenha drenado o pântano, liberando o canal, tal como havia anteriormente drenado a Planície de Tempe (Diodoro Sículo: IV. 18).

3. O mito, entretanto, parece ter um significado histórico ao mesmo tempo que ritual. Aparentemente, um colégio de sacerdotisas árcades que adoravam a deusa tripla como Donzela, Noiva e Velha refugiou-se em Estinfalo após haverem sido todas expulsas da Ravina dos Lobos por invasores que adoravam o Zeus Lupino. Mnaseas deu uma explicação plausível à expulsão ou matança das aves estinfalianas referindo-se à supressão desse colégio de feiticeiras imposta por Hércules, ou seja, por uma tribo de aqueus. O nome Estinfalo sugere práticas eróticas.

4. As “aves árabes de bico forte” de Pausânias podem ter sido demônios da insolação, inofensivos graças à proteção dos peitos de cortiça espinhosa, e que foram confundidas com os avestruzes de bico duro que os árabes ainda costumam caçar.

Leucerodes, “garça branca”, é o nome grego da colhereira. Diz-se que um antepassado de Herodes, o Grande, foi um escravo do templo de Hércules Tírio (Africano, citado por Eusébio: História eclesiástica I. 6. 7), o que explica o nome da família. A colhereira está estreitamente relacionada ao íbis, outra ave do brejo consagrada ao deus Tot, inventor da escrita; e o Hércules Tírio, assim como o seu equivalente celta, era um protetor da cultura que tornou famosa a cidade de Tiro (Ezequiel XXVIII. 12). Na tradição hebraica, seu sacerdote Hiram de Tiro trocava adivinhas com Salomão.(tabbyending)
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