noeton (neoplatonismo)

4. A questão da atividade noética do Uno foi quase de certeza levantada pela descrição que Aristóteles faz da energeia do Primeiro Motor como noesis (ver noûs 9). Tal posição é irreconciliável com o ponto de vista que Plotino tem do Uno e ele dedica todo um ensaio (Enéadas V, 6) à refutação do ponto de vista de Aristóteles. Os argumentos são tirados duma variedade de fontes (são, de fato, tão esquemáticos que sugerem um repertório platônico sobre o assunto), mas detêm-se essencialmente sobre a necessária pluralidade em qualquer tipo de noesis e sobre o estatuto ontológico dos noeta que, na opinião de Plotino, não são de modo algum pensamentos. Proclo, porém, volta a uma posição mais aristotélica. Há uma atividade cognitiva em Deus que é não-dividida, necessária, e perfeitamente determinada, se bem que os seus objetos não o sejam; isto é possível porque o conhecimento (gnosis) de Deus não é dos particulares em si, mas dele como sua causa (Elem. theol., prop. 124); ver trias, noûs 9.

5. O segundo ponto, o estatuto ontológico dos noeta, é atacado por Plotino nas Enéadas V, 9, 7. A possibilidade de os eide serem meras ideias ou conceitos (noemata) tinha já sido levantada e negada no Parm. 132a-c. Mas a Academia passou por um período céptico com Arcesilau e Carnéades, durante o qual as ideai transcendentes caíram em desfavor (ver Cícero, Acad. post. I, 17; para a restauração das ideai por Antíoco de Ascalão, ibid. I, 30-33) e isto era, evidentemente, ainda um problema de importância para Plotino. Ele nega a sua realidade puramente conceptual. Os noeta não são propriamente descritos como pensamentos (noeseis) do noûs cósmico porque, ao contrário dos pensamentos, a sua existência não depende de serem pensados: aqui, pensar e pensamento são idênticos; o noûs eternamente ativado são os noeta (ver V, 9, 5). Além disso, se fossem pensamentos, teriam de existir objetos de pensamento (nooumena) anteriores a eles. Os noeta existem por si próprios, não porque o noûs os pense (V, 9, 7). Estão presentes no noûs cósmico como uma unidade do mesmo modo que um gênero contém todas as suas espécies (V, 9, 6) ou uma ciência contém todos os seus teoremas. Somos nós que os separamos no nosso modo discursivo de pensamento (V, 9, 8; ver noesis 19-20).

6. Para Plotino há dois graus de noeta: as ideai que existem num estado de unidade no noûs cósmico, e as que têm uma existência plural no nosso noûs imanente e humano e que nos são dadas pelo noûs transcendente que é dator formarum (ver noûs 21). Em V, 9, 8 ele diz que estas estão «próximas da realidade (aletheia)», mas em geral não insiste muito numa diferença entre as duas e somos informados que cada um de nós é um kosmos noetos, i. e., temos dentro das nossas almas todos os noeta (III, 4, 3). Estes conceitos estão um pouco alterados em Proclo. Os dois discordaram quanto ao problema do grau de contato entre o noûs transcendente e o imanente( ver as suas diferentes explicações da natureza intermitente da intelecção humana na rubrica noesis 21) e esta discordância reflete-se nos seus pontos de vista sobre os noeta nas nossas almas. Segundo Proclo (Elem. theol., props. 194-195) a alma possui os eide das coisas sensíveis (i. e., os logoi spermatikoi) de uma maneira exemplar (paradeigmatikos – paradeigma), sem matéria e sem extensão (ver physis). Possui as formas inteligíveis, os noeta de uma maneira refletida (eikonikos – eikon); não abrange os artigos genuínos mas meras radiações (emphaseis) deles.

Para hyle noete, ver aphairesis; para a relatividade da inteligibilidade, gnorimon. A faculdade que capta os noeta, quer a um nível cósmico, quer humano, é tratada nas rubricas noûs e psyche e a sua operação na rubrica noesis. A história primitiva dos noeta qua Formas é discutida na rubrica eidos. [Termos Filosóficos Gregos, F. E. Peters]