Descida

Plotino professa a preexistência das almas humanas na Alma Universal, denominada hèn kai pollà. Diz o filósofo: “(…) éramos lá (ekei) almas (individuais) puras e unidas à essência inteira (= psychê universal) e partes dela” (En. VI, 4, 14, 19-20).

A alma separou-se do mundo inteligível devido à tólma, isto é, à audácia, que consiste no desejo de ser independente. Isso levou-a à queda num corpo. Como Platão, o filósofo de Licópolis explica a união da alma com o corpo, não como substancial, mas como justaposição, como composto. Ambos relacionam-se pela sympátheia (En. VI, 4. 3, 19-20). E mais: “O corpo é cárcere e sepultura para a alma” (desmòs tò soma kai táphos: En. IV, 8, 3, 3-4). Consequência imediata da preexistência da alma é o problema da origem das ideias, expresso com termos do vocabulário platônico: “reminiscência obscura”, e aristotélico: passagem de potência para ato (ek dynámeôs eis enérgeian iénai). A alma possui os seres de alguma maneira (pôs échei: En. IV, 6, 3, 16). (Excertos de “Plotino, um estudo das Enéadas”, de R. A. Ullmann)


Segundo Brisson & Pradeau, convém distinguir no caso da alma dois tipos de descida: uma primeira descida, necessária do ponto de vista ontológico, quando a alma se liga a um corpo, em seguida as descidas que a alma efetua, quando ela se volta voluntariamente para os corpos ao invés de para o Intelecto. Quando destas descidas, a vontade da alma se manifesta, e é também, a seu nível, a responsabilidade do ser humano que se encontra engajado. O primeiro tipo de descida é aquele da alma do mundo, o segundo aquele das almas particulares.


VIDE: Tratado 6

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