Hipóstases (Ullmann)

Excertos de “Plotino, um estudo das Enéadas”, de R.A. Ullmann

As três hipóstases ou realidades subsistentes1 – o Uno, o Noûs e a Alma do mundo – constituem o universo inteligível ou imaterial do licopolitano e representam um dos pontos pinaculares do pensamento filosófico de Plotino.

De imediato, surge a pergunta: por que são exatamente três hipóstases? Em duas respostas bifurca-se a questão. Em primeiro lugar, como intérprete e exegeta de Platão, Plotino encontrou seus três princípios divinos no Parmênides do fundador da Academia — prôton hén, hèn pollá, hèn kaí pollá – e nos três reis da Segunda Carta.

Em segundo lugar, essa tríade constitui uma reação aos gnósticos, máxime a Valentiniano, que viveu no século II de nossa era. É tido como o mais destacado gnóstico dentre as numerosas seitas em que se pulverizara o gnosticismo. Sem razão alguma, Valentiniano multiplicou os princípios divinos, imaginando serem trinta, denominados éons, distribuídos em zonas escalonadas e procedentes umas das outras por emanação2.



  1. Em Plotino, hypóstasis pode significar a) fundamento, suporte, substância; b) algo que existe à parte; c) pessoa. Para Plotino, as três hipóstases são deuses felizes: “Esta é a vida impassível e feliz dos deuses” (En. I, 8, 2, 26). A sinonímia de hipóstases e deuses é endossada por DE CAPITANI, Franco, II problema dei male nell’VIII trattato della prima Enneade di Plotino. In: ANGELLI. Franco (org.), Sapienza Antica: studi in onore di Domenico Pesce (Parma, 1985), p. 79. E Plotino completa o pensamento: “Ali, em nenhuma parte, existe o mal e, se a realidade ficasse restrita a esse lugar, não existiria o mal (…)” (En. I, 8, 2, 26-27). “So gibt es diese drei Wesenheiten oder Hypostasen: Gott, Geist und Seele, die zu einer Einheit verbunden sind, da sie alie ais göttlich und wesenhaft bezeichnet werden müssen, die aber ein sehr verschiedener Ausdruck der göttlichen Einheit sind” (MEHLIS, Georg, Plotin (Stuttgart, 1924), p. 59-60). 

  2. Cf. CHARRUE, Jean-Michel, Plotin lecteur de Platon, 3. ed. (Paris, 1993), p. 45-58, com ampla e clara exposição do assunto em tela; etiam ARNOU, René, Le désir de Dieu dans la philosophie de Plotin, 2. ed. (Rome, 1967), p. 122-123.