Excerto de SORABJI, Richard. SELF. Ancient and Modern Insights about Individuality, Life, and Death. Chicago: University of Chicago Press, 2006, p. 5-6.
Nos capítulos três a cinco, discuto antigas visões sobre o que torna uma pessoa a mesma pessoa em momentos diferentes, particularmente no contexto de morte e destruição física, se se crê que a pessoa original possa voltar. No capítulo três, considero três visões: a visão estoica de que as mesmas pessoas retornarão quando o universo repetir sua história exatamente no próximo ciclo; a visão cristã de que após a morte as pessoas serão restauradas por Deus na ressurreição e receberão seus corpos de volta, e a ideia moderna de teletransporte, isto é, de transportar alguém eletronicamente para um planeta distante e reconstituí-lo com um novo corpo após a destruição do antigo. Constatar-se-á que todas as três discussões se voltaram para a questão aristotélica de saber se a mesma matéria ou a mesma forma é necessária para se ter a mesma pessoa.
Pensa-se que a sobrevivência de um único e mesmo indivíduo não pode depender exclusivamente da sobrevivência de outro indivíduo. Pois sobrevivência não é uma noção relativa como eu sendo mais alto que outra pessoa, o que pode depender de ele não crescer mais alto que eu. Esse princípio foi posto à prova pelas discussões modernas sobre o que aconteceria se uma pessoa se dividisse em duas e se sua sobrevivência dependesse da metade da divisão não sobrevivendo. No capítulo quatro evidenciar-se-á que a mesma pergunta foi discutida pelos antigos estoicos em conexão não com a fissão das pessoas, mas com a sua fusão.
Finalmente, John Locke foi considerado com justiça o pai das visões modernas da identidade pessoal, que ele fez depender da memória. Isso tinha a vantagem de evitar a dependência de algo tão indetectável quanto a mesmice da alma. Para a maioria dos antigos, a memória não era a questão central. Mas houveram exceções. Uma delas, Plutarco, é considerada em um capítulo posterior, mas outra foi o epicurista Lucrécio, que foi reconhecido como uma provável influência sobre Locke. Acrescento que a recusa de Locke em tratar a mesmice da alma como a questão central, por mais surpreendente que possa ter sido no contexto do cristianismo da época, parece uma reversão ao que estoicos e epicuristas teriam assumido como dado. E sugiro alguns traços possíveis de influência estoica e epicurista.