Segundo Aristóteles (Metafísica, I, 983 b 20), Tales de Mileto foi o fundador da filosofia dos «físicos» ou «fisiólogos», que se preocupavam em investigar as causas naturais e voltavam, por conseguinte, as costas às especulações dos «teólogos», que recorriam aos mitos e às explicações sobrenaturais. Tales fez parte dos famosos Sete Sábios da Grécia e Eusébio apresenta-o como «o pai da filosofia e o fundador da seita jônia»1.
As principais fontes de informações sobre Tales são Heródoto e Diógenes Laércio. É provável que tivesse nascido em 624 a. C. e viesse a falecer em 548 a.C. Segundo Heródoto, que viveu século e meio mais tarde, Tales era de origem fenícia e, portanto, semita; segundo outros autores, seria um Milésio de nobre família. Seja como for, seu pai, Exâmias, tem nome cário e a mãe, Gleobulima, nome grego. Foi contemporâneo dos reis lídios Aliato e Creso, do rei persa Ciro e de Sólon de Atenas. Foi considerado desde sempre como um grande sophos, isto é, simultaneamente um sábio e um cientista. Duas anedotas muito conhecidas fazem-no passar quer por um sonhador quer por um homem dotado de enorme senso prático. A primeira anedota encontra-se no Teeteto de Platão (174 a): Tales observava o céu e, completamente absorto na contemplação dos astros, não reparou num poço que se encontrava à sua frente e caiu lá dentro, o que lhe valeu os gracejos de uma escrava trácia, que considerava ridículo o zelo de Tales em pretender conhecer o que se passava acima da sua cabeça se era incapaz de ver o que se encontrava diante dos pés.
Mas Aristóteles apresenta-nos Tales como um personagem avisado: «Gomo o censurassem por causa da sua pobreza, tida por uma prova da inutilidade da filosofia, conta a história que, com o auxílio de observações astronômicas, e ainda no decurso do inverno, previu uma colheita abundante de azeitona. Dispondo de uma pequena soma de dinheiro, dera então um sinal para utilizar todos os lagares de azeite de Mileto e Quíos, aluguer que lhe foi concedido a baixo preço, ninguém se apresentando para cobrir o lance. Chegado o momento oportuno, deu-se uma súbita e geral procura de lagares, que subalugou nas condições que quis. Tendo assim amontoado uma soma considerável, provou por este meio que era fácil aos filósofos enriquecerem, quando quisessem, embora não fosse esse o objecto da sua ambição2.
Segundo Heródoto (I, 170), convenceu as cidades jônicas a federarem-se para resistirem ao poderio persa e a escolher Téos por capital. Diógenes Laércio (I, 25) assegura que dissuadiu os Milésios de se aliarem a Creso, rei da Lídia, como este lhe pedia. Salvou desse modo a cidade, dado que o rei persa Giro derrotou Creso. (Jean Brun, “Pré-Socráticos”)