Ética a Nicômaco, Livro I Capítulo V. Tr. António Caeiro
Os que são sofisticados, contudo, e se dedicam à acção prática supõem, antes, ser a honra (timé). Na verdade, a honra quase que é o fim último da vida dedicada à acção política (politike). Este bem que perseguem não deixa, contudo, de ser um bem mais superficial do que aquele (1095b25) de que estamos à procura. Parece ainda que a honra pertence mais aos que a concedem do que àquele que a recebe; ora nós pressentimos, por outro lado, que o bem terá de ser algo de próprio, e que, uma vez obtido, dificilmente será retirado. Por fim, parece que os homens perseguem a honra para se convencerem de que são bons. Pelo menos, procuram ser honrados pelos sensatos (phronesis) e por aqueles que os conhecem, e, de facto, honrados em vista da excelência (arete). (1095b30) É evidente que, pelo menos para estes, a excelência é mais poderosa do que a honra. Talvez, pois, se possa supor que a excelência seja mais propriamente o objectivo final da vida política. Ainda assim, ela própria parece ser incompleta. De facto, parece ser possível, mesmo a dormir, deter a excelência, ou detê-la sem a pôr em prática (1096a1) ao longo da vida; acresce a isto que pode ser-se excelente e sofrer-se tremendamente ou ser-se extremamente infeliz. Ninguém pensará que quem assim viver será feliz, a não ser para defender uma qualquer posição teórica a qualquer preço. Mas ficamos por aqui, porque isto já foi suficientemente discutido nos escritos para os círculos mais alargados.