Tratado 26 (III, 6) – Sobre a impassibilidade dos incorporais

O tratado 26 poderia como os tratados 22 e 23 levar um título paradoxal: como o que parece sofrer não sofre. Trata-se com efeito para Plotino de retificar dois erros que se apoiam sobre nossos “hábitos de linguagem”: aquele que nos faz falar de “paixões da alma” e aquele, mais diretamente associado à escola peripatética, que supõe a matéria sempre “informada”, “afetada” pelas formas que aí estão presentes. Ora, segundo Plotino, nem a alma nem a matéria não sofrem. Seu modo de ser, bem diferente como sabemos desde o Tratado-12 que definiu o que é a matéria, implica que elas sejam inalteráveis e sempre idênticas a elas mesmas. A impassibilidade do ser e das Formas, evocada rapidamente no Tratado-23, vai por si mesmo, posto que o ser não em nada outro que ele mesmo, é pura identidade a si na plenitude realizada e sem mudança do mundo inteligível. A questão é bem mais duvidosa quando se trata da alma que parece, por sua parte, “ser em outra coisa”, em um corpo e ser associada ao devir como a história de nossas vidas nos demonstra. A vida não começa, os estoicos e os epicuristas estão de acordo sobre este ponto, por estes dois afetos fundamentais que são o prazer e a dor? Da mesma forma, a matéria parece ser eminentemente sujeita à alteração, ela que “recebe as formas”. Como poderia ter um predicado associado à dignidade do ser perfeito, a impassibilidade?

A unidade do tratado não salta aos olhos; trata-se de fato de um díptico onde o capítulo 6 consagrado ao ser impassível serve de eixo de rotação entre uma primeira parte, rápida, onde são tratadas questões retomadas nos tratados 27, 28 e 29 a respeito da alma (especialmente a sensação e a memória), e o conjunto desenvolvido dos capítulos 7 a 19 sobre a matéria e sua impassibilidade. (BPPT)


A seguir versões em inglês, francês e espanhol do tratado. Para uma apresentação mais detalhada do tratado, por parágrafo ou capítulo, com comentários visite Eneada-III-6.