A refutação dos predecessores ou dos contemporâneos se completa sobre a constatação de uma alteridade marcada: a alma é de uma “outra natureza” que corporal. Ela é, como o repetem com insistência os capítulos Eneada-IV, 7, 9, Eneada-IV, 7, 10, Eneada-IV, 7, 11, Eneada-IV, 7, 12, uma realidade divina (desprovida de imperfeição), incorporal e inteligível. Longe de ser uma “mistura” de duas naturezas homogêneas, a incorporação da alma é o resultado de uma produção do corpo pela alma, e a vida não é senão o efeito da existência, do movimento e do trato que o produtor dá a seu produto.
Assim refutando todas as definições da alma que aparentam esta última ao corpo, Plotino se põe na obrigação difícil de dever explicar porque e como a primeira produz e se apega à segunda. Esta dificuldade é tanto mais aguda que a incorporação é para a alma um problema, senão um sofrimento. Plotino faz lembrar isto em lendo com minucia as últimas páginas do livro X da República (608c sq.), nas quais Platão afirmava ao mesmo tempo que a incorporação é para a alma uma forma de mutilação, sem todavia que sua verdadeira natureza se encontrasse modificada. O paradoxo não é com efeito senão aparente, prossegue Plotino, pois a alma, toda perturbada que seja pela parte de atividade que a engaja junto dos corpos, não deixa no entanto sua verdadeira natureza e seu lugar próprio, que é o inteligível.