hethos

Excertos de Henrique Lima Vaz, Escritos de Filosofia II

A primeira acepção de ethos (com eta inicial) designa a morada do homem (e do animal em geral). O hethos é a casa do homem. O homem habita sobre a terra, acolhendo-se ao recesso seguro do hethos. Este sentido de um lugar de estada permanente e habitual, de um abrigo protetor, constitui a raiz semântica que dá origem à significação do hethos como costume, esquema praxeológico durável, estilo de vida e ação. A metáfora da morada e do abrigo indica justamente que, a partir do hethos, o espaço do mundo torna-se habitável para o homem. O domínio da physis ou o reino da necessidade é rompido pela abertura do espaço humano do hethos no qual irão inscrever-se os costumes, os hábitos, as normas e os interditos, os valores e as ações. Por conseguinte, o espaço do hethos enquanto espaço humano, não é dado ao homem, mas por ele construído ou incessantemente reconstruído. Nunca a casa do hethos está pronta e acabada para o homem, e esse seu essencial inacabamento é o signo de uma presença a um tempo próxima e infinitamente distante, e que Platão designou como a presença exigente do Bem, que está além de todo ser (ousia) ou para além do que se mostra acabado e completo.

É, pois, no espaço do hethos que o logos torna-se compreensão e expressão do ser do homem como exigência radical de dever-ser ou do bem. Assim, na aurora da filosofia grega, Heráclito entendeu o hethos na sua sentença célebre: hethos anthropo daimon. O hethos é, na concepção heraclítica, regido pelo logos, e é nessa obediência ao logos que se dão os primeiros passos em direção à Ética como saber racional do hethos. assim como irá entendê-la a tradição filosófica do Ocidente.


Heráclito: «o hethos de um homem é o seu daimon», Diels, frg. 119. Em Platão é um resultado do hábito (Leis 792e), é mais moral do que intelectual (dianoia) em Aristóteles (Ethica Nichomacos 1139a). Tipos de ethos em vários períodos da vida são descritos por Aristóteles, Rhet. II, caps. 12-14. No estoicismo o ethos é a fonte do comportamento, SVF I, 203. (Termos Filosóficos Gregos, F. E. Peters)