stoikheia (Gobry)

stoikheia (tá) / stoikheia: elementos. Latim: elemento.

Componentes simples do mundo sensível. E o plural da palavra neutra tò stoikheion, raramente empregada sozinha, pois o real se apresenta como uma coabitação dos elementos simples que o compõem. Aristóteles define o elemento como: “Um primeiro componente de um ser, que lhe é imanente e é indivisível em outras espécies” (Met., A, 3).

Na história do pensamento grego, os elementos primeiros do mundo apresentam-se invariavelmente como quatro: água: tò hydor (to hydor); ar: ho aér (ho aer); terra: he gê (he ge); fogo: tò pyr (to pyr).

Essa quadrilogia já aparece em Pitágoras e é adotada por Platão, que a transmite a Aristóteles, no que este é seguido, de um lado, pelos pensadores latinos (encabeçados por Cícero) e, por outro, pelos pensadores medievais, primeiramente muçulmanos e depois cristãos. Devido à autoridade de Santo Tomás de Aquino, essa teoria subsiste fielmente até o fim do século XVIII. Serão necessárias as obras de Lavoisier (t 1794) e depois de Dalton (t 1844) para chegar à definição e à nomenclatura dos corpos simples que compõem o universo.

A teoria dos quatro elementos certamente é de importação egípcia. Num hino encontrado no templo de El Khargheh, dirigido à Divindade universal, canta-se: “Es a terra, és o fogo, és a água, és o ar.” Pitágoras, que passara algum tempo em Heliópolis do Egito, ensinou-a em Crotona (D.L.,VIII, 25). Depois, foi adotada por seus discípulos, especialmente por Filolau (fr. 6) e Xenófanes (IX, 18). Heráclito atribui aos quatro elementos uma evolução cíclica: “A vida do fogo nasce da morte da terra; a vida do ar nasce da morte do fogo; a vida da água nasce da morte do ar; a terra nasce da morte da água” (fr. 76). Para Empédocles, os quatro elementos originaram-se de uma Unidade primitiva, o Uno (Hén / hen), mas ele não se digna explicar a natureza deste: “Do Uno surge o múltiplo: o fogo, a água, a terra e o ar” (XVII, 18). Quando Demócrito explica como os átomos indiferenciados (ápeira / apeira), levados por um turbilhão, deram origem a quatro corpos, denomina-os fogo, ar, água, terra (DL., IX, 44).

Platão assume essa herança. E verdade que ele ironiza os tagarelas que ora fundamentam seres múltiplos em um e extraem de um o múltiplo, ora dividem o real em elementos (Sofista, 252b), mas em outro lugar fala seriamente dos “elementos do universo” (Timeu, 48b; Pol., 278d). Em Filebo (29a), ele se limita a afirmar que o universo resulta da composição de quatro corpos: fogo, água, ar, terra. Mas em Timeu, além de repetir várias vezes essa asserção (42a, 46d, 48b, 51a, 53c, 55e), dedica-se a voos da imaginação; para constituir o mundo, o Demiurgo tomou de início o fogo e a terra; mas, para uni-los, precisou do ar e da água; e Platão chega a estabelecer relações (32b): fogo/ar = água/ar = água/terra

Além disso, os mesmos elementos servem para a constituição específica dos corpos geométricos: a terra para o cubo; o fogo para a pirâmide; a água para o isocaedro; o ar para o octaedro (55d-56b). No entanto, em Leis (X, 891c-d), Platão pede a seu discípulo que tome cuidado com a relatividade dos quatro elementos: eles não são primeiros no universo, porque precedidos pela alma.

Aristóteles, no livro A (3) da Metafísica, que é seu léxico filosófico, dedica um comentário ao termo stoikheion. Lembra (Met., A, 3) que Empédocles contava como elementos “os quatro corpos simples”. Mas amplia a atribuição do termo: em Leucipo e Demócrito, os elementos são o pleno e o vácuo; em Pitágoras, o Par e o ímpar (A, 5). Em seu tratado Do céu, Aristóteles acrescenta um quinto elemento, o éter (aither), elemento do céu e dos astros. Dedica o livro II do De generatione et corruptione à crítica da concepção dos elementos em seus predecessores.

Os estoicos adotam os quatro elementos, cuja reunião “forma uma substância sem qualidade, que é a matéria. O fogo é quente, a água é úmida, o ar é frio, a terra é seca” (D.L.,VII, 137).

Os pré-socráticos jônios, anteriores a Pitágoras, que não são influenciados pelo Egito, mas sim pela Mesopotâmia e pela Fenícia, põem na origem do mundo um elemento único, que é um princípio (arkhé / arche). Materno, autor do século IV de nossa era, tenta encontrar, mas sem sucesso, a origem dos quatro elementos nos diversos povos do Oriente: entre os egípcios, a água; entre os frígios, a terra; entre os assírios, o ar; entre os persas, o fogo (De errore profanarum religionum, I, 4).

Outro sentido de stoikheion: sílaba, elemento da palavra e da elocução, som indivisível: aquilo que hoje chamamos de fonema (Aristóteles, Poét., XX). (Gobry)