Epistrophê (volta para) é o termo usado por Plotino, para designar o retorno da alma à sua origem1.
Dois caminhos convergentes, orientados pela dialética2, propõe Plotino, para ascender ao Uno: um, atinente à inteligência; outro, respeitante à vontade. Ambas devem assumir a tarefa da purificação (via purgativa), mediante gradativo desprendimento da matéria, pela abstração, aphaíresis ou Entweltlichung. Aphele pánta3 era a divisa plotiniana, a qual apresentava incessantemente aos discípulos como lema de vida e constituía um apelo para a interiorização4. Para retornar ao Uno, basta o esforço pessoal, sem auxílio de fora? O licopolitano parece ter estado convicto de que, por achar-se o Uno presente em tudo e por estarem todas as coisas presentes nele (panenteísmo), era dispensável o que os cristãos denominam graça ou dom gratuito de Deus5. Já nesta vida, o homem reto e desprendido de tudo pode, na mente de Plotino, unir-se misticamente ao Bem, ou seja, a Deus6.
“His great object is to show those few who are capable of comprehending his teaching the way to return to their true origin, which is also their true end, the One or Good, the first principie or reality which is obtainible only in a union beyond thought or description, and which must be prepared for by the attainment of moral and intellectual perfection. The impulse to return comes ultimately from the One itself’ (THE ENCYCLOPEDIA AMERICANA (New York, 1962), v. XXII, p. 251). ↩
“Questo movimento dei pensiero che astrae dalla molteplicità conduce verso l’unità, e viene inoltre caratterizzato anche come ascesa, a partire da Platone va inteso come dialettica” (BEIERWALTES, op. cit., p. 27). Assim, dialética e conversão (metánoia) são conversíveis. A dialética é condicionada pela purificação ética. ↩
En. V, 3,17; cf. também IV, 3, 32 e VI, 9, 31. ↩
Diz PLOTINO: “Retorna a ti e te olha” (En. I, 6, 9, 7). Em termos quase iguais, Santo AGOSTINHO disse: “Noli foras ire, in te ipsum redi”. ↩
No entanto, Plotino reconhece que “l’unione mística avviene per forze diverse da quelle che uniscono il pensante al pensato” (En. VI, 9, 8). Cf. também En. VI, 9, 9, 10 e 49. ↩
A união mística com Deus é um evento mundano, com ajuda do alto, que não necessita de outras condições anormais para verificar-se. Plotino adverte que se requer, para tanto, uma contemplação contínua e que a alma não seja afetada por nenhuma perturbação corpórea (cf. En. VI, 9, 10). ↩