O que é o mundo inteligível?
Sempre insatisfeito com o que ele próprio era, Plotino ambicionava um excelsior, um ápice não mais ultrapassável. A esse lugar Plotino sentia-se impulsionado por um instinto natural. “Mas que lugar é esse?” pergunta ele (En. V, 9,2, 1. E responde: “É o lugar invisível” (aóratos tópos: En. V, 8, 10,5), sem extensão espacial, o qual só é conhecido pelo intelecto. O Uno (Hén) (= Deus, Bem, Supra-Ser, Beleza), o Espírito ou Inteligência (= Noûs = hèn pollá) e a Alma do Mundo (Psychê – hèn kai polia) compõem o universo inteligível, as três hipóstases ou a tríade plotiniana, a qual foi interpretada como Trindade cristã por Eusébio de Cesareia, por Teodoreto de Ciro e Cirilo de Alexandria. Basílio de Cesareia e Agostinho não aceitaram essa interpretação concordista.
Quanto ao modo de conhecer esse tópos ánô, Plotino assume quatro posições. Vejamo-las. A primeira é apriorística ou dogmática, sentenciando peremptoriamente, sem admitir, pelo assim dizer, discussão. Impõe uma verdade. Exemplos abundam, com o emprego dos verbos dei, anánkê esti (= é necessário) ou ouk dynaton (= é impossível). Assim temos:
a) “O Uno existe necessariamente” antes de tudo (dei pró pántôn hèn einai: En. III, 9, 7-8).
b) “Se existe o múltiplo, é mister que antes exista um” (ei pollà anánkê prohypárchein hén: En. VI, 6, 13, 17-18).
c) “Não é possível existirem muitas coisas, não existindo o um” (ou dynatai gàr pollà, mê henòs óntos: En. V, 6, 3, 2).
d) Também quanto à segunda hipóstase, Plotino é categórico: “Noûn einai anánkê”- (é necessário que exista o Noûs: En. V, 4, 2, 2). (Excertos de “Plotino, um estudo das Enéadas”, de R. A. Ullmann)