A República

Rocha Pereira

Excertos da Introdução de Maria Helena da Rocha Pereira, à sua tradução da “República

Apreciamos, através desta sucinta análise, a ordenação dos motivos ao longo do diálogo. Tivemos assim ocasião de ver que um grande número de temas foi abordado. A propósito das origens da cidade, no Livro II, discutiu-se teoria política, ao formular a chamada Teoria Orgânica, que vê no Estado uma pessoa política, dotada de vida e carácter próprio1. Outros encontraram na tese de Gláucon, de que é natural ao homem explorar os seus semelhantes, mas deixa de o fazer logo que descobre que tem mais vantagem em chegar a acordo com os outros, uma primeira exposição da Teoria do Contrato Social2. À teoria política é também indubitavelmente consagrado o Livro I, assim como os Livros VIII e IX, que descrevem o modo como se originam as várias formas de governo. A psicologia tem um lugar de relevo no Livro IV, onde se analisam os elementos da alma, e no Livro X, onde se apresentam provas da sua imortalidade. Nos Livros VI e VII assume grande papel a Teoria das Ideias, que é fundamental na epistemologia platónica, mas, além disso, não pode dissociar-se da sua metafísica e ética3. Não esqueçamos que é para a ideia suprema do Bem que se orienta a formação do filósofo-rei.

O Livro VII formula uma teoria da educação, ilustrada com um esquema de curriculum de estudos superiores, que vem contemplar a formação elementar, que se preconizara no Livro III. Além disso, ao enumerar as diversas ciências que compõem esse plano, referem-se os principais problemas que tem a resolver. O facto é mais evidente quando se trata da astronomia, mas não deve deixar de se atentar – sem olvidar o que representava de arrojada novidade para a época – no elogio da estereometria. Ocasionalmente, também se fala do papel que deve ter a medicina na sociedade (III. 405d-408e).

Define-se, além disso, o que seja filósofo e filosofia (V. 474d-480a; VI. 484a-487a), e o método desta última (e.g, VII. 533c-e).

Depois desta enumeração, aliás não-exaustiva, poder-se-á perguntar, ante tal variedade, se existe um tema principal, e, no caso afirmativo, se ele é ou não o que o título da obra indica.

Tivemos anteriormente oportunidade de verificar que certas palavras-chave da República podiam induzir o leitor em erro, se não soubesse previamente o que elas significavam no séc. IV a.C. em geral, e para o autor em particular. Ora uma dessas é precisamente o título da obra, Politeia, cujo sentido etimológico é «constituição» ou «forma de governo» de uma polis ou cidade-estado. É tudo o que diz respeito à vida pública de um Estado, incluindo os direitos dos cidadãos que o constituem. Este aspecto público, comunitário, traduz-se claramente na equivalência que os Romanos deram ao termo, empregando o composto que ainda hoje usamos, respublica. Não designa, por conseguinte, uma forma de governo determinada, mas todas em geral4.

Ora num livro com este título, a pergunta fundamental, que vai servir de base a todo o diálogo, é: Que é Dikaiosyne? Esta, bem como o adjectivo de onde deriva, dikaios, constituem dificuldade idêntica à anterior, porquanto é, como escreveu R. L. Nettleship, «o mais genérico dos nomes gregos para a virtude, e, no seu sentido mais lato, diz-nos Aristóteles, equivalente a ‘a totalidade de virtudes, tal como se mostra no nosso trato com os outros’ (Eth. Nic. v.1.15 e 20)»5. É, em resumo, «proceder bem» para com os demais6.

Sendo assim, e tendo presente a equivalência, já referida mais de uma vez, e fortemente sublinhada ao longo dos Livros VIII-IX, entre Estado e indivíduo, compreendemos o âmbito da Dikaiosyne e sua relevância na estrutura da cidade, na Politeia. Não precisamos de supor, como E. A, Havelock, que a República é primariamente «um ataque ao aparelho educativo existente na Grécia»7, Antes nos parece que o problema deve formular-se ao contrário: porque o sistema educativo é essencial na formação dos cidadãos, cabe-lhe um papel de relevo numa obra que trata da cidade8).

O mesmo helenista pensa que assim se explica o lugar destacado conferido à condenação da poesia, no último Livro. Recorde-se, contudo, que não é esse o fecho da obra, mas sim o mito de Er, cuja finalidade é demonstrar, com todo o aparato imaginativo de que se reveste, a necessidade de proceder bem durante a vida, ou seja, de ser justo.


Uma primeira característica salta aos olhos de quem abrir este tratado: a sua forma de diálogo, não dramaticamente expressa, como no Górgias, Ménon ou Fedro, mas sob a aparência de uma narrativa feita por Sócrates a um auditório anônimo9, ou seja, exactamente o mesmo processo adoptado no Protágoras, Cármides e Lísis10.

O facto tem sido explorado – era inevitável – como base para estabelecer a tão discutida cronologia relativa da obra de Platão, tanto mais que no Teeteto (143b-c) o processo é explicitamente declarado incômodo e, como tal, abandonado. Mas o passo em questão não é de molde a excluir a possibilidade de a forma narrativa ter sido retomada posteriormente a esse diálogo, e, de um modo geral, a crítica moderna tende a desvalorizar este critério de datação11).

Permanece certa, porém, a vantagem, proporcionada pela narrativa, de permitir uma caracterização mais acentuada das figuras e de reconstituir com mais relevo o ambiente em que se movimentam12. Basta atentar em certos pormenores da República para obtermos uma brilhante confirmação do facto: logo na entrada, o escravo de Polemarco, que chega a correr ao pé de Sócrates e lhe agarra o manto por detrás, a fim de lhe pedir, da parte do amo, que se não retire já; e o voltar do mestre, para saber de quem se trata (Republica-I|I. 327b); depois a inesquecível agitação de Trasímaco, que não pode mais dominar a indignação que lhe causa o método de investigação seguido por Sócrates (I. 336b); o suor e o rubor do Sofista, ao sentir-se derrotado (I. 350c-d); mais adiante, no começo do Livro V, o estender da mão de Polemarco, que estava sentado longe de Adimanto e lhe puxa pela veste, inclinando-se para a frente, para lhe segredar umas palavras, de que os circunstantes só ouvem a resposta – a resposta que vai alterar o curso do diálogo (V. 449b-c).

Eggers Lan

A menudo han sido distinguidas cinco secciones en la composición de la República: una integrada sólo por el libro I, que constituye un verdadero diálogo socrático cuyo tema es la justicia; otra, compuesta por los libros II al IV, donde se traza el proyecto político propiamente dicho de Platón; una tercera que incluye los libros V a VII, y que es la sección más estrictamente filosófica de la obra; una cuarta que conforman los libros VIII y IX, en la que se exponen los diversos tipos de constituciones políticas posibles, con su probable origen y desenlace, y los tipos correspondientes de hombres que suponen; finalmente, la sección que constituye el libro X, con una suerte de apéndice sobre la poesía y un mito escatológico que corrobora lo dicho acerca de las recompensas que recibe el justo.

Aunque la obra tiene unidad, se advierten cambios de argumentación, interrupciones o regresos a puntos ya tratados, de un modo tal, que sugieren que Platón ha sentido necesidad de tratar nuevamente algo o de recomenzar la obra sin suprimir lo anterior o de interrumpir el tratamiento de un punto para aclarar otro, etc. Entre los casos más llamativos podemos mencionar el evidente hiato entre los libros I y II, tras el cual (con las palabras «creía haber puesto fin a la conversación») se prosigue un diálogo que parecía concluido, pero con nuevos interlocutores, que continúan en este papel hasta el final de la obra. Al comienzo del libro V se produce una interrupción de Adimanto, pero, a diferencia de otras interrupciones, ésta no hace avanzar la discusión anterior, sino que, a propósito de un punto apenas rozado antes (la comunidad de mujeres y de niños), constituye una digresión, que sólo cede lugar luego ante la problemática filosófica más importante de la obra. El tema iniciado al final del libro IV (la descripción de los tipos de organizaciones políticas) queda así relegado hasta que se retoma al comienzo del libro VIII. Finalmente, cuando uno pensaría, al término del libro IX, que sólo debería esperar a continuación un mito escatológico, al comienzo del X Platón vuelve sobre la poesía —de la que se había ocupado ampliamente en II-III—, en una exposición que no guarda relación con lo que ha antecedido ni con lo que le seguirá.

G.R.F.Ferrari

For all the historical particularity of the Republic, it has also achieved enduring recognition as a classic of political philosophy. Its position within the range of political philosophy, however, has proved more difficult to pinpoint than the work’s canonical status might lead one to expect. Some, indeed, have wondered whether it ought to be considered a political work at all. Does it not set out to answer a problem of individual rather than collective action, and demonstrate the claim of morality on individual choice and its effect on individual well-being, regardless of social consequences (367b–e)? Does Socrates not explicitly subordinate politics to psychology, describing social structures only as an analogue for corresponding structures of character within the individual (369a)? In which case, it would be better to think of the Republic as a work of moral philosophy. Others have chosen to emphasise the fact that its proposals for social reform – its utopian refashionings of education, of property- rights, of the very structure of the family – go well beyond what correspondence with the individual would require, and seem to be developed for their own sake. Even where that correspondence is more strictly observed, in the parallel analyses of unjust societies and individuals that fill Book 8, the critique of actual social conditions that emerges from the correspondence has a relevance and bite of its own.

Yet if the Republic would on this account merit its classification as a political work, disagreement returns with the attempt to classify its political stance. Concentrate on its desire to secure collective happiness (420b), its warnings against disparities of wealth and against the mercantile ethos (421d–e, 556c), its efforts to avoid oppression of the weak by the powerful in society, and you may find in it the first stirrings of socialism. Look rather towards its restriction of political power to a tiny elite (429a, 491a), consider their status as moral paragons and saviours (487a, 463b), their centralised control of the moral and cultural as well as economic life of the society, their eugenic techniques (458c–461e), their resort to censorship and to outright deception in order to preserve order and promote good behaviour (389b–c, 414b, 459c–d), and you may think you are reading a prescient charter for fascism – as did some scholars, approvingly, before the Second World War, and many, disgustedly, in its aftermath.

One modern stance whose ancestry it would occur to no one to trace back to the Republic is liberalism. What could be further from an ideal of collective self-rule through elected government and uncensored discussion than the political life of Callipolis? In a liberal society, there are for political purposes no morally superior human types, but Callipolis – to describe it now in its own terms rather than with modern categories – is an aristocracy of the virtuous. Philosophers qualify to form its ruling class by their moral and intellectual excellence – their natural superiority, reinforced and perfected by careful education. Should the Republic’s theoretical descendants therefore be sought rather in the varieties of republicanism, which, broadly understood, elevates ideals of citizenship and community over individualism, and assigns to politics the goal of promoting virtue? Certainly, Socrates does not hesitate to attribute wisdom and courage to Callipolis as a whole even though the virtues in question are restricted to small classes within the populace (428b–430c) – much as each Greek republic called itself a free and self-governing community no matter how restricted its citizen-roll or governing class. He sets himself the goal of making the entire society flourish, preventing any particular class or individual from flourishing at the expense of the whole (420b–421c). And he sums up the task of his philosopher-kings as that of modelling the community as closely as possible on permanent ideals of virtue (501b).

Yet for all that, it is rather Aristotle’s Politics, with its famous declaration that man is a political animal, and that the purpose of society is not mere life but a good life, that is the more whole-hearted inaugurator of this tradition. A reader of the Republic is unlikely to come away with so celebratory a sense of the possibilities of the self-governing community. Reservations come to a focus at one of the work’s central and most disconcerting ideas: that a society should be governed by those who show least eagerness for the task. The idea appears in other writers, including Isocrates and Aristotle, but in connection with conventional political complaints. They frown upon excessive ambition, or sigh for an earlier age when the socially eminent engaged in public life from a sense of their station and its duties. Such thoughts make their appearance in the Republic also (347b, 520b–d), but are developed in the direction of outright disenchantment with the political life – famously allegorised in the philosophic soul’s escape from the dim and constricted cave of its cultural environment to the sunlit, open spaces of true understanding (514a–517c).

The philosopher, even the philosopher who becomes king, does not look to society as the realm in which to exercise his freedom and realise his virtue, but looks rather to the life of the mind for his liberation; nor does he define himself by his social station or the values of citizenship, but by his individual search for wisdom. For a work that is, in truth, no ancestor of liberalism, the Republic lays an unusual emphasis on the individual; however, it regards individuality not as a possession that confers rights on all and gives society its defining basis, but as an achievement of the few – an achievement in which society can play, at best, only a supporting role. Small wonder, then, that some have doubted whether the Republic is truly a political work. One might say, rather, that it is counter- political.

Jowett

THE REPUBLIC

Contents

Persons of the Dialogue : SOCRATES, who is the narrator ; CEPHALUS ; GLAUCON ; THRASYMACHUS ; ADEIMANTUS ; CLEITOPHON ; POLEMARCHUS ; and others who are mute auditors. The scene is laid in the house of Cephalus at the Piraeus ; and the whole dialogue is narrated by Socrates, the day after it actually took place, to Timaeus, Hermocrates, Critias, and a nameless person, who are introduced in the Timaeus.


Introduction to The Republic by Benjamin Jowett

The argument of the Republic is the search after Justice, the nature of which is first hinted at by Cephalus, the just and blameless old man, — then discussed on the basis of proverbial morality by Socrates and Polemarchus, — then caricatured by Thrasymachus and partially explained by Socrates, — reduced to an abstraction by Glaucon and Adeimantus, and, having become invisible in the individual, reappears at length in the ideal State which is constructed by Socrates. The first care of the rulers is to be education, of which an outline is drawn after the old Hellenic model, providing only for an improved religion and morality, and more simplicity in music and gymnastic, a manlier strain of poetry, and greater harmony of the individual and the State. We are thus led on to the conception of a higher State, in which “no man calls anything his own,” and in which there is neither “marrying nor giving in marriage,” and “kings are philosophers” and “philosophers are kings ;” and there is another and higher education, intellectual as well as moral and religious, of science as well as of art, and not of youth only but of the whole of life. Such a State is hardly to be realized in this world and would quickly degenerate. To the perfect ideal succeeds the government of the soldier and the lover of honor, this again declining into democracy, and democracy into tyranny, in an imaginary but regular order having not much resemblance to the actual facts. When “the wheel has come full circle” we do not begin again with a new period of human life ; but we have passed from the best to the worst, and there we end. The subject is then changed and the old quarrel of poetry and philosophy which had been more lightly treated in the earlier books of the Republic is now resumed and fought out to a conclusion. Poetry is discovered to be an imitation thrice removed from the truth, and Homer, as well as the dramatic poets, having been condemned as an imitator, is sent into banishment along with them. And the idea of the State is supplemented by the revelation of a future life.


  1. A teoria foi analisada por T. D. Weldon, States and Morals, cap. 2 (apud R. C. Cross and A. D. Woozley, Plato’s Republic A Philosophical Commentary, p. 76). 

  2. É esta a interpretação de F. M. Cornford (The Republic of Plato, p. 41) e outros. Negam-na R. C. Cross and A. D. Woozley, Plato’s Republic. A Philosophical Commentary, pp. 71-74. 

  3. Cf. R. C. Cross and A. D. Woozley, op. cit., pp. 186-187 e 193. 

  4. O facto, que tem sido repetidamente apontado, é expresso com grande clareza por J. Ferguson, Plato’s: Republic Book x, p. 29: «A República é um livro de filosofia moral; nisso é enganador o seu título habitual, porquanto esperamos encontrar uma obra de filosofia política e ficamos desconcertados pela grande amplitude do seu tema, que inclui problemas de política, educação, estética, sexo, filosofia social, psicologia, ética, metafísica e religião. Isto compreende-se prontamente, se nos dermos conta de que Homem, para os Gregos, significa Homem na Sociedade.» A. Diès, na introdução à edição Budé de Platão, Tomo vi, não é menos claro. Efetivamente, depois de considerar que a justiça é uma virtude social, que só se forma bem no indivíduo pelo modelo de uma cidade bem administrada, concluiu (p. xii): «Por, isso, justiça social e justiça individual, ordem da cidade e ordem da alma se misturarão entre si sem cessar, através de todo este diálogo. Não temos, pois, de nos interrogarmos, qual o tema primário e qual o tema secundário; o tema é um: é a República (perfeita) ou a Justiça.» 

  5. Lectures on the Republic of Plato, pp. 4-5. 

  6. Vide, entre outro, F. M. Cornford, The Republic of Plato, p. 1; H. S. Thayer, «Plato; the Theory and Language of Function» in Plato’s Republic. Interpretation and Criticism ed. A. Sesonske, pp. 21-29; R. C. Cross and A. D. Woozley, Plato’s Republic. A Philosophical Commentary, pp. vi-vii. 

  7. Preface to Plato, cap. 1, especialmente p. 13. Havelock foi mesmo ao ponto de fazer a contagem das páginas consagradas à teoria política, para além do Livro I, e verificou que eram cerca de 81 em 239 (p. 18, n. 37) efetuando o cálculo pela numeração de Stephanus. 

  8. Este modo de encarar a unidade da República não diverge, essencialmente, da do célebre ensaio de H.-G. Gadamer, «P latos Staat der Erziehung», Das nem Bild der Antike, herausgegeben von H. Berve, Leipzig, 1942,1, pp. 3×7-333, que H. Cherniss resume em Lustrum, iv (1959), p. 156, do seguinte modo: «Trata-se de uma exposição da relação da justiça como saúde do Estado com a justiça como saúde da alma, e da consequente unidade da República como um tratado que estabelece a necessidade de educação filosófica para a realização e manutenção da virtude política».

    A seguir e na mesma página daquela revista bibliográfica, H. Cherniss refere a tese sustentada por R. G. Hoerber, The Theme of Plato’s Republic, St. Louis, 1944, de que o diálogo em causa «diz respeito exclusivamente aos efeitos da justiça e da injustiça na alma do indivíduo, sendo o esboço do Estado destinado apenas a ilustrar a alma individual e não a ter qualquer significado político prático». Tão errada concepção, comenta o recensor, poderia ter sido evitada por uma leitura cuidadosa de estudos como o de Gadamer.
    Que o quadro da cidade ideal não é moldura apenas, prova-o a resposta de Sócrates a Gláucon, quando este lhe declara a impossibilidade de a realizar neste mundo:
    Mas talvez haja um modelo no céu, para quem quiser contemplá-la, e, contemplando-a, fundar uma para si mesmo. De resto, nada importa que a cidade exista em qualquer lugar, ou venha a existir, porquanto é pelas suas normas, e pelas de mais nenhuma, que ele pautará o seu comportamento. (IX. 592b 

  9. Noutros diálogos, o interlocutor é nomeado. Assim, e para só citar o mais conhecido, na abertura do Fédon, é o discípulo de Sócrates com este nome que conta a Equécrates a conversa final e os últimos momentos do Mestre.
    A forma de diálogo, em si, não é, como se sabe, novidade platônica, pois outros discípulos de Sócrates o usaram. Mas só Platão elevou o diálogo filosófico a gênero literário. 

  10. Além destes, são também diálogos narrados o Eutidemo, o Fédon (citado na nota anterior), o banquete e o Parménides. A relação pormenorizada das variantes usadas para os introduzir pode ver-se em Paul Shorey, What Plato Said, pp. 63-64. 

  11. Estamos longe, portanto, das posições extremas assumidas no séc. XIX, como a de Schöne (1862), que considerava os diálogos narrados como os últimos, ou como a de Teichmüller (1879), que sustentava a tese oposta. No entanto, um especialista como Holger Thesleff (Studies in tbe Styles of Plato, Helsinki, 1967, p. 19) continua a entender que as diferenças entre as duas modalidades são notáveis e incluem modos de composição e estilo que parecem tornar difícil de aceitar a passagem de uma para outra.
    (O mesmo especialista, nos seus recentes Studies in Platonic Chronology, Helsinki, defende a teoria de que essas diferenças se reflectem na aplicabilidade do critério estilométrico como índice de datação. 

  12. Cf., entre outros, P. Shorey, What Plato Said, p. 64.