proodos: avanço, processão

II. 9. 3
(Armstrong selection and translation AP)

(The law of necessary production: each Principle must eternally produce the level of being immediately below it as a necessary consequence of its own existence: and the whole order of things is eternal: the lower world of becoming was not created at a particular moment but is eternally being generated: it is always there as a whole, and particular things in it only perish so that others may come into being.)

Each must give of its own being to something else. The Good will not be the Good, or Noûs, Noûs; Soul will not be itself, unless after the primal life some secondary life lives as long as the primal exists. All things must exist for ever in ordered dependence upon each other: those other than the First have come into being only in the sense of being derived and dependent. Things that are said to have come into being did not just come into being (at a particular moment) but always were and always will be in process of becoming: nor does anything perish except what can be transformed into something else; that which has nothing into which it can be transformed does not perish.

Peters

1. Nos seus termos mais gerais a «processão» é a tentativa do platonismo tardio para resolver as dificuldades parmenidianas da unidade e da pluralidade. Se o Uno (hen) é, e é transcendente (ver hyperousia), donde a subsequente pluralidade do kosmos? Plotino, qus enfrenta o problema a vários níveis (v. g. a unidade e a pluralidade da alma nas Enéadas IV, 3, 2-6; ver psyche), reporta-se frequentemente a explicações metafóricas e particularmente à figura do sol e aos seus raios (ver eklampsis). Mas a base metafísica da solução para o problema «Se um, porquê muitos?» assenta na natureza do Uno e, particularmente, na sua perfeição (telos; Enéadas V, 4) e na identificação da causa eficiente e final (ver Timeu 29e e confrontar Enéadas IV, 8, 6; V, 4, 1; daí o posterior bonum est diffusivum sui).

2. Isto proporciona os elementos para a derivação mais sistemática que Proclo faz das hypostases. Começa (Elem. theol., prop. 21) por citar um paralelismo matemático das séries geradas a partir da monas. Para Proclo esta é uma figura melhor do que a eklampsis visto que permite o transito em ambas as direções nas séries, possibilitando assim o importante correlato ético da processão, «retorno» (epistrophe).

3. Segue-se (props. 25-30) uma descrição do próprio proodos. Todos os seres completos ou perfeitos (teleion) geram (props. 25, 27; confrontar Enéadas V, 1, 6), mas a causa permanece não-diminuída e imóvel (menon; prop. 26), como já tinha sido de fato compreendido por Platão (Timeu 42e). Este princípio, destinado a salvaguardar a integridade e a transcendência da arche, é um lugar-comum em Plotino (ver Enéadas V, 1, 6; V, 2, 1) e salienta-se particularmente com a introdução de um Deus-Criador nos sistemas (ver Agostinho, Conf. I, 3). O efeito é semelhante (homoios) à causa (prop. 29) e assim o efeito tanto está presente na causa como procede dela (prop. 30; ver Enéadas V, 5, 9). Assim, há uma tríade de três «momentos»: cada efeito (aitiaton) permanece (menon) na sua causa, procede (proodos) dela, e regressa a ela (epistrophe; prop. 35) qua bem (ver Proclo, Theol. Plat. II, 95).

4. As aplicações destes princípios são imensas. O princípio da semelhança, aqui expresso na sua processão de saída, será aplicado na epistrophe oposta (prop. 32) e fornecerá assim um meio tanto para a ascensão moral da alma até à sua fonte (para uma visão ética da sua «queda», ver kathodos), como para as bases epistemológicas da abordagem cognitiva de Deus (ver Enéadas I, 8, 1 e agnostos; para o princípio da semelhança no contexto mais vasto da cognição ver homoios, aisthesis). Dá, além disso, uma visão de todo o kosmos, tanto nos seus aspectos sensíveis como nos inteligíveis, como um magnífico organismo (holon) com as suas partes ligadas numa relação de compatibilidade (sympatheia) e descendendo, numa cadeia ininterrupta de seres análogos, de uma arche comum.

Para a posição do proodos num contexto ontológico mais geral, ver trias. (Termos Filosóficos Gregos, F. E. Peters)

Gandillac

O movimento inverso à ascensão da alma, evocado por toda parte no neoplatonismo, aparentemente anterior, mas na verdade incessante e logo simultâneo, mostra que em nenhum sentido se deve tomar esta “processão” (proodos) como evento fundador e metahistórico mais ou menos assimilável a uma criação ex nihilo, seja simplesmente a uma “fabricação” demiúrgica tal qual a relatam mitos como aquele do Timeu platônico. A efusão do Princípio originário — certamente não esgotamento, é pelo menos divisão, dispersão, enfraquecimento progressivo da infinita Fecundidade. (Maurice de Gandillac)